sábado, 3 de novembro de 2018

Mea culpa mea maxima culpa


Nasci num tempo em que os pais tinham um estatuto de grande superioridade em relação aos filhos. Eram austeros e até um pouco rudes no trato, não por falta de amor mas para impor “respeito” e marcar a cada um o seu lugar. Aos meus olhos, os meus pais não tinham fragilidades e estavam envoltos numa aura de invulnerabilidade tal, que, até há bem pouco tempo, eu não os via a precisar de mim. Que ser filha era uma responsabilidade, um dever, que tinha obrigações. Ser filha, era uma circunstância. A hipótese de eles precisarem de mim afigurava-se-me de tal maneira remota que quando, finalmente, me caiu a realidade em cima, eu não soube (não sei ) o que fazer. Como fazer. Não sei ser eu a mais forte. A que cuida. Porque cuidar de um idoso não é só dar carinho, compreensão, companhia. Há o lado prático das necessidades básicas. A realidade em paralelo com a teoria. Estou a prestar provas. Mas sinto que vou chumbar. Não por falta de empenho, mas por absoluta falta de capacidade. Não sei ser filha. A filha que eu gostaria de ser. E isso angustia-me!

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