Nasci num tempo em que os pais tinham um estatuto de grande superioridade
em relação aos filhos. Eram austeros e até um pouco rudes no trato, não por
falta de amor mas para impor “respeito” e marcar a cada um o seu lugar. Aos
meus olhos, os meus pais não tinham fragilidades e estavam envoltos numa aura
de invulnerabilidade tal, que, até há bem pouco tempo, eu não os via a precisar
de mim. Que ser filha era uma responsabilidade, um dever, que tinha obrigações.
Ser filha, era uma circunstância. A hipótese de eles precisarem de mim
afigurava-se-me de tal maneira remota que quando, finalmente, me caiu a
realidade em cima, eu não soube (não sei ) o que fazer. Como fazer. Não sei ser
eu a mais forte. A que cuida. Porque cuidar de um idoso não é só dar carinho,
compreensão, companhia. Há o lado prático das necessidades básicas. A realidade
em paralelo com a teoria. Estou a prestar provas. Mas sinto que vou chumbar.
Não por falta de empenho, mas por absoluta falta de capacidade. Não sei ser
filha. A filha que eu gostaria de ser. E isso angustia-me!
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