quarta-feira, 10 de março de 2021

Quem diz que as coisas não têm valor?

 

Esta é a tijela onde a minha avó guardava o fermento de uma cozedura a outra. Fazer o pão, era um ritual desde a vinda do moleiro, até o pão sair do forno, quentinho, a cheirar a coisa boa. Não sei dizer de outra maneira:coisa boa. Era bom ir com a minha avó à lenha para o forno. Era bom vê-la peneirar a farinha que o Sr Abel trazia à quarta feira. Era bom vê-la amassar e fazer uma crus na massa com uma benzedura e uma lengalenga que eu nunca percebi. Era bom irmos apanhar a aroeira para fazer o ramo que ela atava num pau e com ele varria o forno antes de pôr o pão. Era bom vê-la, ágil e sábia a pôr lenha até ao ponto certo. Era bom ver a destreza com que ela tendia o pão, o enfarinhava e punha em cima da pá e num gesto rápido o conseguia pôr direitinho dentro do forno. Era bom fazer um pequeno pãozinho que ela me deixava fazer com o resto da massa. Era bom ver a atenção com que ela espreitava para perceber quando devia tirar a "bexana". Bexana, era um buraco que o forno tinha, que ela tapava com uma pedra que só tirava quando sabia que a temperatura do forno o exigia. Era bom ver a satisfação com que ela o tirava e tapava com uma toalha branca. E era muito bom, comer uma "neta" bem quentinha com azeite e açucar. Era tudo tão bom! Vou guardar para sempre esta velha tigela que tão boas recordações me traz, e que tem para mim tem um valor imensurável.

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