terça-feira, 30 de março de 2021

Todas as mães (ou quase todas)

 Todas as mães têm casas dentro dos olhos.

E praias escondidas nos bolsos, e flores
a prender o cabelo dos dias.
Todas as mães têm gelados guardados no coração para os fins de tarde mais alegres, e bolo de iogurte e leite morno para as manhãs invernosas dos desgostos dos filhos.
Todas as mães têm vestidos largos para abrirem melhor os braços, e é de pétalas o agasalho do seu riso quando o colo se abre ao cansaço e cresce para embalar as tardes.
Virgínia do Carmo, in "Ecos de Green Rose"

segunda-feira, 29 de março de 2021

Sombras

 


A vida é uma simples sombra que passa (...); é uma história contada por um idiota, cheia de ruído e de furor e que nada significa.

William Shakespeare

quinta-feira, 25 de março de 2021

Xenofobia

 Aqui perto da minha casa mora há pouco tempo um casal jovem. São Indianos e têm um bebé pequeno. Adivinhei-lhes a necessidade e tenho feito o que posso para os ajudar um pouco. Talvez por serem de outra raça, há quem os olhe de lado e me considere "muito generosa" como se isso fosse uma leviandade. Fico triste. Por um lado, porque é uma pena que seja só eu a ajudá-los. Por outro, porque pelo que tenho feito, não me considero generosa. Ser generoso é dar do que nos faz falta. Felizmente pra mim, o que lhes tenho dado não me faz falta. Logo, não me enobrece. Mas leva-me a crer, que, mesmo quem não consegue ser generoso, pode sempre fazer um pouco por quem não tem nada. Sem complexos.

terça-feira, 23 de março de 2021

Este, era o relógio de bolso do meu avô C

Usava-o todos os dias. Fazia parte da "farda" de trabalho e da fatiota de domingo. O meu avô usava sempre colete. A trabalhar e a domingar. E lá estava ele, corrente de prata presa na casa do colete e o próprio no pequeno bolso. Se era dia de trabalho, combinava o colete com calças de cotim e barrete na cabeça. Se era domingo ou dia de mercado, usava o melhor colete, camisa branca, calça de bom tecido e chapéu preto na cabeça. A dar o toque de diferença, a bengala. 
Cada vez que olho pra este relógio, lembro-me daquele gesto tão familiar, de o tirar do bolso, ver as horas e voltar a pô-lo, sempre da mesma maneira. O relógio e as lembranças são peças de grande valor do meu património afetivo. Guardar as coisas deles (os que já se finaram), fá-los mais presentes. Eles e as saudades deles!

 

sexta-feira, 19 de março de 2021

Nunca gostei de dias disto, daquilo e de aqueloutro

 E continuo a não gostar. Mas o meu pai gostava que eu me lembrasse do dia do pai e do aniversário dele. Lembro-me de uma vez, num dia do pai, eu lhe ligar já tarde por estar demasiado ocupada com o trabalho, e ele me dizer que pensava que eu me tinha esquecido. Não dei importancia mas hoje lembrei-me. E lembrei-me dele todo o dia. E lembrei-me que nunca mais lhe dou um beijo no dia do pai. E que nunca mais vou ter oportunidade de lhe chamar pai. 

É do camandro!!  

quarta-feira, 17 de março de 2021

Saboreia o caminho, pequena Papoila. Sem pressa!

 


"Ao olhar o horizonte e perceber que o caminho que você planeou é longo, não desanime ao ver a distância que ainda falta para chegar."

segunda-feira, 15 de março de 2021

Guardei dos meus avós os objetos mais representativos do quotidiano deles

 

Este, era o esmagador de alhos do meu avô A. Todos os dias, comia ao "mata-bicho" uma sopa de alho feita por ele. Parece que o estou a ver, naquele processo, vagarosamente, e depois sentar-se a saborear o pitéu. Saudades dele!

sexta-feira, 12 de março de 2021

Dos meus tesouros

 

Este, é um antigo jarro de Escanção da extinta Junta Nacional do Vinho. Muitas décadas!

quarta-feira, 10 de março de 2021

Quem diz que as coisas não têm valor?

 

Esta é a tijela onde a minha avó guardava o fermento de uma cozedura a outra. Fazer o pão, era um ritual desde a vinda do moleiro, até o pão sair do forno, quentinho, a cheirar a coisa boa. Não sei dizer de outra maneira:coisa boa. Era bom ir com a minha avó à lenha para o forno. Era bom vê-la peneirar a farinha que o Sr Abel trazia à quarta feira. Era bom vê-la amassar e fazer uma crus na massa com uma benzedura e uma lengalenga que eu nunca percebi. Era bom irmos apanhar a aroeira para fazer o ramo que ela atava num pau e com ele varria o forno antes de pôr o pão. Era bom vê-la, ágil e sábia a pôr lenha até ao ponto certo. Era bom ver a destreza com que ela tendia o pão, o enfarinhava e punha em cima da pá e num gesto rápido o conseguia pôr direitinho dentro do forno. Era bom fazer um pequeno pãozinho que ela me deixava fazer com o resto da massa. Era bom ver a atenção com que ela espreitava para perceber quando devia tirar a "bexana". Bexana, era um buraco que o forno tinha, que ela tapava com uma pedra que só tirava quando sabia que a temperatura do forno o exigia. Era bom ver a satisfação com que ela o tirava e tapava com uma toalha branca. E era muito bom, comer uma "neta" bem quentinha com azeite e açucar. Era tudo tão bom! Vou guardar para sempre esta velha tigela que tão boas recordações me traz, e que tem para mim tem um valor imensurável.

segunda-feira, 8 de março de 2021

Hoje fez um ano que o meu pai faleceu

 A caminho do cemitério, pensei pra mim  mesma porque estaria eu ali, de flor na mão, para fazer ao meu pai, uma homenagem que eu sei que ele não vê e não serve de nada porque ele está morto. E logo eu, que não ligo nada a homenagens póstumas. Até ao cemitério, compreendi que era uma forma de me redimir, ou tentar, das falhas que tive enquanto filha. Fiz o que pude mas sinto que não fui a filha que deveria ter sido. Quando cheguei e o vi sorrir pra mim naquela foto desbotada, dei-me conta de que nunca mais o vou ver. Nunca mais o vou ouvir. Nunca mais. E chorei. De saudade. De muita saudade. 

sábado, 6 de março de 2021

Viajar? Só na lembrança!

 Ontem entornei vinagre na cozinha. Limpei, lavei, mas hoje de manhã quando entrei, cheirou-me à Rua Gascona em Oviedo, a rua das Sidrerías, no fim de uma noite de verão. Para quem não sabe, a Sidra é uma bebida de maçã, que nas Astúrias tem a particularidade de ser tomada em grupo, onde várias pessoas socializam num ritual único de degustação. Partilha-se a garrafa e até o copo. Quem bebe em primeiro lugar (e de uma vez só) a bebida que um hábil escanção tira da garrafa a uma altura considerável (dizem eles que é para oxigenar)e que, curiosamente cai dentro do copo, deixa sempre um pouco no fundo. Assim, o escanção antes de encher novamente o copo, para o proximo bebedor, deita fora o restinho que ficou pelo sitio em que o anterior bebeu para "desinfetar" e a seguir manda-o para o chão. Para devolver à terra o que ela nos deu. Ora, com tanta dádiva à terra, e com tantas Sidrerías na cidade,  no fim de uma noitada cheira mais a vinagre que a Sidra. Escorre vinho de maçã pela calçada e até dentro das Sidrerías. Mas, curiosamente, na manhã seguinte, as ruas apresentam-se impecavelmente lavadas sem vestigios de maus cheiros. Até a Gorda de Botero reluz. Será que esta tradição vai sobreviver ao Covid? Será que ainda vai haver coragem para partilhar copos desta bebida e manter a tradição? Quero acreditar que sim. Já fui muito feliz em Oviedo. Olé!   

quinta-feira, 4 de março de 2021

Pequena Papoila...

 

... empoleirada a cozinhar com grande entusiasmo. Espero que não seja só para a foto para mostrar à avó que usa o avental que ela lhe fez. 

quarta-feira, 3 de março de 2021

Náhhhh! Ainda não é este ano

Apesar de, timidamente, as minhas amendoeiras já exibirem algumas flores, não me parece que seja este ano que provo destas amêndoas.

Já a cameleira que Papoila mais crescida plantou há uns anos, nunca foi tão generosa em beleza.

 

terça-feira, 2 de março de 2021

A boca

 Quando a M faz caminhada comigo, a tia N lembra-a sempre "leva a boca". A boca, é a máscara. Com o habito de andarmos sempre de "boca", hoje dei por mim a pôr a máscara para atender o telefone. Nem sei se ria, se chore.