Nunca fui crente em divindades, mas, também desde sempre, tive a convicção de que há um equilíbrio que tem de ser respeitado sob pena de ficarmos num desequilíbrio que nos pode levar a um pino involuntário.Agora, confinada e com tempo de sobra tenho pensado muito nisto.
Durante muitos anos, em nome do progresso, passamos por cima de tantas prioridades, criando um desequilíbrio tão grande, que me parece que este vírus veio compor o que andámos a desequilibrar há décadas.
Ora vejamos:
Com a paragem obrigatória da industria pesada, do consumo desenfreado, do uso exagerado de veículos, da socialização massiva, e de tantos outros exageros, os valores do ozono voltaram a níveis
de há muitas décadas atrás (isto não sou eu que digo, é quem faz "estudos" sobre a matéria).
Com o confinamento por decreto, passamos a dar mais valor ao que é realmente importante e não apenas ao papel higiénico.
Com o afastamento físico (obrigatório) dos "nossos", passamos a sentir-lhes a falta e não apenas saudades.
Com a proibição de circularmos sempre que nos apetece, passamos a dar real valor ao direito essencial de "ir e vir", direito esse que tínhamos como garantido ou que nem sequer tínhamos pensado que existia.
Com a recomendação de sairmos o mínimo possível, descobrimos que não temos necessidade de comer tanto, de vestir tanto, de calçar tanto, de maquilhar tanto, de gastar tanto.
Descobrimos que, afinal, passávamos bem sem carro (queridos transportes públicos, onde andais?)
Descobrimos também a diferença entre "matar" o tempo com ecrãs ou com a leitura de um livro.
Descobrimos a importância de ter uma horta (quem a pode ter), e de como vale muito mais a qualidade do que a quantidade. E de como as coisas simples são imensuravelmente mais importantes.
Estamos, enfim, a dar valor ao essencial e a relativizar o supérfluo. A sentirmo-nos emocionados quando vemos um veado a brincar numa praia e a termos a certeza de que aquele também é o lugar dele. O tempo que temos a mais, deixa-nos olhar para dentro de nós e selecionarmos o que nos faz bem e eliminar "sujidade" dispensável.
Na verdade, estamos a reequilibrar-nos e, todos juntos, reequilibrarmos o universo, Começando pelo nosso.
Texto curto para tão extenso tema. Ficaram apenas uns tópicos.
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