terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Do que eu gosto


Fazer uma caminhada, sem ter a obrigação de andar a uma velocidade X para conseguir fazê-la num tempo Y, faz com que seja sempre um prazer. Passar pelos mesmos sítios em estações do ano diferentes, com calma, e “ver” com atenção cada pormenor é um exercício fascinante.

 

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

RARÍSSIMAS....


 eram as vezes, em que a minha avó via alguém mais pobre chegar ao topo  e não dizia “hummmmm dar o mando a um pobre não é boa coisa”. Eu descodifico: para a minha avó, o topo da hierarquia que ela conhecia, eram os capatazes dos ranchos de camponeses que por aqui havia. Eram todos pobres, é certo, mas uns eram ainda mais pobres que os outros.
Certos “mandos”, agora,  podem ser outros, mas a merda é a mesma. O cheiro é que é diferente.

 

sábado, 16 de dezembro de 2017

Do que me surpreende no bom sentido


 Digo muitas vezes, por ser verdade, que estou muito desiludida com as pessoas em geral. E, infelizmente, não sou só eu. Basta tomarmos atenção às notícias diárias para ficarmos cada vez mais desencantados. Não vivo angustiada com isso, sou apenas realista. Mas também sou otimista e gosto sempre de ver o melhor das coisas e das pessoas e de ser surpreendida no bom sentido. E para me encantar e voltar a acreditar que há pessoas maravilhosas, não é preciso muito. E hoje foi dia. Durante a minha caminhada diária, passei a uma porta que tinha um grande chapéu – de - chuva aberto. Nada de estranhar, estava a chover. Mas quando vi com mais atenção, reparei que ao abrigo do chapéu, estavam cinco gatos. Três pequenos e dois grandes que devem ser os pais. Todos muito juntinhos, porque o chapéu ainda tinha de abrigar a comida, a água e uma caixa com uma camisola de lã quentinha. De outras vezes, já os tinha visto e sei que não têm dono. Naquela casa mora, sozinho, um homem. Que eu conheço ou pensava que conhecia. Ou melhor: que eu passei a conhecer.
 Aquele quadro, deu-me uma alegria que não consigo transcrever.

 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O que aos olhos dos outros parece ridículo


Quando passava perto da casa da mãe de um amigo meu que se mudou para Lisboa muito novo e só ca vinha de vez em quando e via as janelas abertas e as toalhas de linho a apanhar sol, sabia que nesse fim de semana ele vinha de certeza. Achava estranho tanto cuidado com um homem feito, e, francamente, um exagero.
Com Papoila mais crescida quase a chegar para uma semana de férias, dei comigo a limpar o quarto como se ele estivesse sujo, liguei o desumidificador para retirar alguma humidade que por lá andasse, escolhi uns lençóis que ela já conhece, escolhi os brinquedos de que ela mais gosta e pu-los bem à vista e enquanto andava nesta azáfama, lembrei-me da mãe do meu amigo.
As mães têm particularidades que só as outras mães compreendem.
E as avós tambem!

Será do frio?


 

Tenho andado com uma fome, que só penso em comida. E as vezes que eu me tenho lembrado do que de melhor me tem passado pela goela? Ai aquela Chanfana em Piódão!!!!E os rojões do Minho?  E aquele peixinho grelhado no meu restaurante preferido da Praia de Mira? E as Misturadas da avó R. regadas com bom azeite? E a galinha caseira da avó T. corada no forno de lenha? E o bacalhau assado com magusto que eu como onde o apanho? E as sandes de presunto com bom queijo caseiro na serra de Monchique? Agora, até o cozido das Furnas marchava.
Vou já ali comer uma laranjinha! E umas nozes, vá! E um cadinho de chocolate.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Ilusão e inocência - o melhor da infancia

- O meu dente já caiu, avó!
-Que bom, Papoila! Estás a crescer. Agora já és um bocadinho mais crescida.
- Quando fui pra cama, pus o meu dente debaixo da almofada e de noite a fada dos dentes levou-o  e deixou lá uma prenda. Um iô-iô e uma moeda!
- !!!!!!!!!!!!!!!!!!!

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Ana (!!!!!!!!)

Agora até à ventania dão nome!
E logo Ana, um nome tão fofinho?
Ou muito me engano ou ainda vai haver uma nortada com o meu nome!

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Realidades


Ia por aquela rua abaixo, deserta, e veio-me à memória o movimento, a confusão que ia naquela rua noutros tempos aquela hora. Havia transito nos dois sentidos, havia muitas lojas, havia gente, havia barulho, havia a “praça”, onde eu comprava, no intervalo da manhã, no tempo delas, a maior laranja que encontrava à venda. Todos os dias almoçava no mesmo restaurante, onde também almoçavam os meus amigos Z. V. e G.

Eles traziam comida de casa e só consumiam uma cerveja, mas o Sr. A. E a D. L. não se importavam que eles ocupassem uma mesa na sala de cima que tinha sempre poucos fregueses. Eles iam lá de manhã pôr o saco, iam à sua vida e ao almoço lá estavam. E eu também. Durante anos. Eu comia um prego no pão, que bem podia comer na escola, mas os donos do restaurante eram amigos dos meus pais, que lhes tinham dado a incumbência de me “guardarem” no intervalo do almoço e assim tinha de ser. Passávamos um bom bocado na conversa, sem assédios, sem merdas, em pura camaradagem.

Eramos os quatro de aldeias ali próximas, cada um de uma. Depois do almoço, ficávamos um bocado à porta, a ver passar sempre as mesmas pessoas, que passavam sempre à mesma hora.

Depois, o Z. ia para a retrosaria onde trabalhava e que agora, já fechada,  é a Loja do Cidadão, o V. que era sapateiro, ia abrir a porta da sapataria mesmo ali em frente, num rés do chão de um prédio que já não existe e o G, ia para o escritório da serração onde trabalhava, que foi demolida e onde agora existem vários prédios, e eu ia para a escola. No dia seguinte, tudo se repetia.

Agora, sem vivalma, na mesma rua, entrei na loja do Z., que entretanto abriu o seu próprio negócio, o sonho de uma vida, para que me pusesse seis molas num casaco que fiz para a Papoila mais crescida, e um ilhoses para umas coisas que tinha pensado fazer. Gosto sempre de ver o Z.. Disse-lhe ao que ia, e enquanto ele foi tratar do assunto, fiquei por minutos à porta da loja, à espera. A loja do Z., fica mesmo, mesmo em frente à antiga praça e era em tempos uma mercearia. E lembro-me que tinha um velho moinho de café onde se moia o grão na hora e que dava a todo o espaço um cheirinho a café que chegava à rua. Onde antes havia confusão, barulho, movimento, há agora solidão, quietude, silencio. Por momentos, pareceu-me ver tudo como antes, os carros a passarem devagar, com folhas de couve ainda agarradas aos  pneus, os pregões das peixeiras, o cacarejar das galinhas vivas e os pregões das vendedoras de fruta. Quando o Z. voltou com as molas postas no casaco, olhou pra mim e tenho a certeza que adivinhou o que eu estava a lembrar.

Perguntei-lhe se o negócio ia bem e ele encolheu os ombros e respondeu-me que não há clientes. Logo……

Despedi-me e fui pôr o casaco no carro e buscar umas coisas de que precisava para o que ia fazer a seguir. Abri o carro ainda de longe e reparei que lá perto estava uma “feira” de natal montada. Com carrocel e tudo. Com tudo isto, passei pelo carro e segui já esquecida do que ia fazer. E o que foi que eu vi? Uma carrocel a andar à volta…..sozinho, um vendedor de farturas à espera de clientes e mais uns vendedores de umas barraquitas por ali a olhar pra mim como se vissem um fantasma. 

A cidade, que antes era vila, cresceu a olhos vistos. Mas onde estão as pessoas?

 

 

 

    

 

 

 

 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Ir...


Ir, de avião ou até mesmo de carro, é rápido. Como se fossemos a fugir ou a correr de encontro ao que esperamos encontrar.
Sair de barco, não. É sair devagar. E  conjugar lentamente o verbo ir, dá-nos tempo de sentirmos um nó no estomago, um aperto no peito, um orvalho no olhar.
É termos vontade de esticar o braço e agarrar com força a mão dos que ficam.
É temos saudades antecipadas do que vai ficando, lentamente, pra tás.
E termos a certeza de qual é o nosso chão!

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Época de Natal...

... arvore de natal, jantares de natal, iluminações de natal, promoções de natal, pais natal, ementas de natal, montras de natal, musicas de natal, caridadezinha de natal, cores de natal, livros de natal......
Porra! Não deve faltar muito, para a parafernália de natal se impor logo a seguir ao Ano Novo!|

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Cerejeira em flor......em Dezembro

Isto quer dizer muitas coisas. Graves. Mas pra já, digo apenas, que não é ainda na próxima primavera que eu vou comer cerejas.


segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Património imaterial

Depois deste sonho que me pareceu tão real, já que tudo isto aconteceu tantas vezes, tenho pensado nestas quatro pessoas. Verdadeiros exemplares de agricultores ribatejanos dos anos sessenta.
A tia F. era azeda. Diziam que era por não ter filhos, mas eu, apesar de achar que a maternidade adoça as mulheres, penso que era mesmo o mau feitiozinho dela. Parece que a estou a ver, de sapatos de couro, meias de algodão canelado, sempre a limpar as mãos ao avental de riscado. Usava óculos de aros dourados, que eu sempre pensei que eram mesmo de ouro, e um carrapito no cucuruto da cabeça mirrada em cima do pescoço comprido, como se fosse uma cabeça de fósforo. Tinha sempre galinhas e galos bem gordos e de boas cores e muitas vezes ouvia "Que rico galo, ó Ti F. Há de dar uma bela canja". " Não o cagas, ó rapaz", respondia ela prontamente. Orgulhava-se de ser uma boa cozinheira e tinha sempre em casa guloseimas que trazia dos casamentos onde trabalhava. "Anda cá ó nina". E eu lá ia, toda contente. Dava-me um bolo e mandava-me logo embora. Chamava ninas e ninos a todas as crianças, porque nem queria ter o trabalho de nos chamar meninas ou meninos. Era uma figuraça.
O Tio J. era um homem que eu nunca vi fazer nada depressa. Tudo pra ele tinha de ser com muita calma. Andar, trabalhar, falar, enrolar o cigarro. Usava barrete e roupa muito escura. Era feio e na boca tinha apenas um dente que mais parecia um menir. Mas quando  sorria, o que era raro, parecia-me até bonito. Era irmão do avô. Nunca vi este casal ter  o mais pequeno gesto de ternura um com o outro.
O avô C. era um pandego. Baixo e gordo, andava sempre a rir e a brincar. Usava colete todos os dias, mesmo que fosse a cavar a vinha. No bolso, sempre, o relógio com corrente de prata. Na cabeça, de verão chapéu e de inverno o barrete. Quando saia, trajava como um verdadeiro camponês e nunca esquecia a bengala.Tinha a porta da adega sempre aberta como se fosse de venda ao publico, sendo que o publico eram os amigos a quem obsequiava com quantos copos eles quisessem.
A avó T. era de poucas falas e pouco riso. Não tinha mãe desde o dia em que nasceu e foi criada aos trambolhões, como ela dizia. Nunca festejava ou falava do dia de aniversário, porque nesse dia lhe tinha morrido a mãe que tanta falta lhe tinha feito. Era uma mulher rude, sem ser áspera. Criou sobrinhos órfãos como se fossem filhos, talvez por lhes conhecer o infortúnio. E todos os sobrinhos em geral gostavam dela. Não era de missas, à exceção do dia 8 de Setembro na capela da Escusa.
Ajudava quem podia, como se fosse uma obrigação. Quando me lembro dela, vejo-a de candeia na mão, de roupa de dormir e cabeleira alva desatada do carrapito que usava durante o dia, quando me compunha a roupa ao deitar ou a por o bacio dentro da mesinha de cabeceira. Ou a abrir o velho baú de onde tirava as mantas com que me tapava. Ou de almotolia na mão, a tirar o azeite da pia de pedra.
Hoje, todos já morreram. E com eles, as casas e quase todos os pertences.
A casa dos tios, foi demolida e os sobrinhos construíram uma nova que ainda não foi vendida.
A dos meu avós, está moribunda,
Agora, o muro e a tangerineira são meus. Também o relógio de bolso do avô agora é meu.
Salvei ainda da morte certa, a pia do azeite, a mesa de cabeceira em madeira e ardósia com, garantidamente, mais de cem anos, o baú e a mesa da cozinha grande que nunca era usada.
E mais do que tudo isto, guardo as minhas memórias.