Ouço muitas vezes, que as pessoas, principalmente as mulheres, que têm grande afeto por animais, só assim são por não terem filhos.
Não podia ser menos verdade.
Até ter as minhas filhas, aos vinte anos (pouco depois de ter nascido), por mim, todos os cães do mundo deviam morrer, já que tinha tanto medo de qualquer um que nem suportava olhar para eles e se soubesse que ia passar por um, mesmo preso, era capaz de dar uma volta de quilómetros só para não passar por ele.
Quanto a gatos, largavam muito pelo e eram fugidios e pouco sociáveis.
Era capaz de matar uma galinha com a destreza de um estripador e matar um coelho à paulada como se estivesse a bater numa pedra.
Chegaram as filhas e tudo mudou. Nunca mais consegui comer carne de coelho, coisa fofinha que quando esfolado parece mesmo um recém nascido(se não olharmos para a cabeça de olhos esbugalhados), não mais comi uma perna da galinha, pobre animal que também tem mãe e filhos, fofinhos que só eles, arrepio-me se tiver de matar uma mosca à cacetada, adoro as lagartixas que as minhas gatas ainda deixam andar por aqui, os pássaros a quem antes destruía os ninhos, tento a todo o custo proteger das minhas predadoras, e com a restante bicharada tenho um respeito que antes não tinha.
E cães e gatos?
Bem....com esses foi mesmo um amor incondicional e os malandros bem o percebem.
Quando viemos para esta casa, as minhas filhas, que nunca tinham tido um animal por não termos condições na outra casa, pediram um cão e foi então o pricipio do fim do meu sossego.
E foi esse o único que eu escolhi. Era o nosso Miminho e nem posso falar mais dele que me faltam as forças.
Os que se seguiram, cães e gatos, não fui eu que os escolhi. Foram eles que me escolheram.
E eu escolheria mais, ou deixaria que me escolhessem, se pudesse ter mais.
Não consigo compreender quem abandona um animal e fico doente quando os vejo à deriva e não os posso trazer. Sofro imenso e passo muitas noites sem dormir, sabendo que bem perto de mim há animais num sofrimento que eu não posso aliviar, e com a morte dos meus que eu não consigo evitar.
Não sou assim porque sou boazinha. Sou assim, porque a maternidade, traz um acréscimo de sensibilidade, que as outras pessoas não têm.
Agora está chover e eu sei que bem perto daqui há animais que passaram a noite à chuva e assim vão passar o dia.
Por alguns consigo fazer alguma coisa.....por outros não.
As minhas gatas, mãe e filha, abandonadas, estão bem quentinhas, encostadas uma à outra, e se eu chegar perto delas ouço um ronronar tão gostoso que me apetece deitar ao pé delas.
As meus cães, mãe e filho, abandonados maltratados e desnutridos, estão agora a dormir nas suas casotas, saciados, com a certeza de que quando deixar de chover vão passear, brincar e receber muito.
Pena que nem todos tenham a sorte que eles tiveram.
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