quarta-feira, 4 de junho de 2014

Junhos e junhos

Quando eu era criança, o mês de junho, era por norma um mês em que se sentia muito calor, já que era o primeiro mês de verão e isso naquela época contava mesmo. Havia as quatro estações bem definidas.
Era em junho que o trigo ficava loiro, se ceifava, se debulhava. No campo, ouviam-se os pulverizadores a "curarem" as vinhas e se a memória não me engana, ainda se ouviam as melodias de "Oh`s" dos cavadores, um grito entre o alivio e a dor, de cada vez que lançavam a enxada.
Era também em junho que os dias eram maiores, que os trabalhadores do campo tinham a "sesta", que se ia regar à tardinha. Em junho, eu, filha de mãe cuidadosa, saia de casa com casaco e esquecia-me dele pelos dois quilómetros do caminho. Acabavam as aulas e começavam as intermináveis "férias grandes"
Era também em junho que eu construía, só para mim, um esconderijo no monte das vides do meu avô.
Em junho, os ciganos, nómadas, deixavam as marcas dos pés descalços no pó da estrada de terra.
Porque os dias eram maiores, o Zé Domingos, centro comercial ambulante destes lugares, demorava mais na venda.
Também porque os dias eram maiores, andávamos quilómetros na carroça do moleiro, porque havia tempo de chegar a casa ainda dia.
Começava a haver feijão verde na horta, e eu a torcer o nariz sempre que o via no prato.
Era o mês dos santos populares e faziam-se fogueiras com alecrim e o meu tio M. dançava o fandango quando já mal conseguia aguentar-se de pé.
Havia a festa da aldeia e comprava-se roupa nova.
Era o mês em que as pessoas de Lisboa que tinham cá casa, voltavam e enchiam de novidade este pequeno mundo.
Era um mês de recomeço.
Agora, perdeu a maiúscula e eu estou aqui a escrevinhar isto com uma manta nas pernas e a ouvir o uivo do vento lá fora.
S. Pedro, onde andas tu?


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