terça-feira, 25 de junho de 2013

Verão

A tarde de hoje faz-me lembrar verões  de outros tempos.
Quando o verão eram três meses de calor a sério.
Lembro-me de fazer uma "cazinha" no monte de molhos de vides que o meu avô A. fazia debaixo da oliveira.
Conseguia fazer uma entrada e lá dentro ficar completamente à sombra.
E enquanto lá estava, ouvia os "hó" "hó" dos cavadores que todos juntos formavam uma melodia estranha que soava a desabafo, a dor.
E era-o, certamente.
A estrada era de terra e se víssemos o rasto de uns pés descalços, já sabíamos que tinha passado cigana.
As ciganas passavam muito por aqui. Vendiam tecidos e compravam cabelo.
Lembro-me de a minha mãe me fazer uma trança e depois cortá-la. Fiquei triste, mas essa trança foi trocada por um tecido que deu para um vestido e esqueci-me rapidamente de como tinha ficado ridícula com o corte de cabelo com que fiquei.
As tardes eram longas para uma criança, quando o que havia para fazer era quase nada.
Não havia televisão, nem computador...
Deve ser praticamente impossível para as crianças de hoje, imaginarem as férias grandes das crianças daquela época.
Restavam os livros. Que não eram nossos. Não havia dinheiro para esses luxos.
Eram requisitados na biblioteca itinerante da Gulbenkian.
Lia os meus num instante e depois lia os dos outros que não tinham paciência para leitura.
Há noite havia tantos pirilampos na rua que nem dávamos pela falta de luz elétrica.
E brincávamos até tarde. Na rua.
Outros tempos!

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