Hoje acordei indisposta.
Tensão arterial baixíssima, sono de cair para lado...
Depois da terapêutica habitual, fiz a vontade ao corpo e deitei-me. E dormi.
Penso, com algumas dúvidas, que já estava acordada quando ouvi aquela buzina.
Uma buzina que me transportou até à minha infância.
Era a buzina do Zé Domingos.
O Zé Domingos era o centro comercial daquela época, nestas terriolas perdidas do resto do mundo.
Vendia de tudo: elásticos, tecidos, botões, linhas, palmilhas, chapéus de chuva e mil e outras coisas.
E comprava ovos, galinhas, coelhos, peles...
Tudo isto seria normal, não fosse tudo transportado numa bicicleta.
Claro que a bicicleta era só para a mercadoria, que o pobre nem conseguia perceber onde estava o selim. Tinha de puxar por ela quando subia, e segura-la, e bem, quando descia.
Parece que o estou a ver. De mitra, e suspensórios. Era anafado e simpático e tinha o ponto de venda à sombra da oliveira da minha avó R.
Já não me lembro a que dia da semana vinha. Mas era sempre no mesmo.
E no dia que vinha, transformava o dia habitualmente pacato, num dia cheio de novidades.
Umas trazidas por ele, outras pelas clientes que se juntavam ali à volta tinham sempre alguma coisa para dizer.
É claramente uma das figuras marcantes da minha infância.
E hoje, não sei bem se a buzina que ouvi era real, ou a do Zé Domingos da minha infância.
Real mesmo foi o bem que me fez aquele sono.
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