sábado, 29 de junho de 2013

Ser criança

Ouve-se muitas vezes dizer que as crianças agora são mais espertas!
Eu não concordo.
O que se passa é que hoje, e já há alguns anos, felizmente, as crianças têm com os seus pais, professores e demais educadores, uma relação de confiança que lhes dá autonomia para se expressarem de forma natural.
Quando eu era criança isso não acontecia.
A relação que tínhamos com os adultos era de medo.
E não me digam que era respeito. Era medo mesmo.
Em casa tínhamos de obedecer aos nossos pais e ser como eles queriam que fossemos. Sem perguntas nem conversas indesejáveis que a resposta logo vinha pronta "NÃO SÃO CONVERSAS PARA A TUA IDADE". Tínhamos de beijar tudo o que era velha chata para que a esmerada educação que recebíamos ficasse à vista. Vestir as roupas mais ridículas porque o que tapava o frio, tapava o calor.
Ir à missa todos os domingos com muitas confissões pelo meio, para nos limpar dos "pecados".
As mais velhas, por isso mesmo, passavam a ser velhas mesmo que só tivessem três anos, e era-lhes exigido que tivessem um comportamento de adultos em relação aos irmãos mais novos.
Não podíamos dizer o que queríamos fazer quando fossemos grandes, porque seríamos o que eles decidissem.
Na escola tínhamos de nos levantar e ficar em sentido de cada vez que a professora entrava.
Se eramos pobres, tínhamos de ter notas muito superiores às dos ricos se queríamos ser tratados com alguma consideração pela professora. Se não, a régua entrava em ação.
Não tínhamos desculpa para atrasos de cinco minutos, mesmo que morássemos a cinco quilómetros da escola e fossemos a pé com chuva, geada ou qualquer outra intempérie.
Tudo isto sem roupa ou calçado apropriados, entenda-se.
Muitos, ainda tinham de trabalhar, e muito, quando chegavam a casa.
Na catequese, tínhamos de decorar o catecismo mesmo que não entendêssemos  patavina daquilo.
Cumprimentar o padre com uma grande vénia, mesmo que no momento anterior o tivéssemos visto dar uma grande bofetada a uma criança, apenas porque ela estava sentada numa posição "pouco digna" ou a brincar de modo pouco apropriado.
E era isto.
Medo em casa, medo na escola, medo na catequese...porque as nossas tristes vidas se resumiam a isto: casa, escola e catequese.
Nada de outras distrações que o diabo estava sempre à espreita.
Agora felizmente nada é assim. As crianças podem ser crianças e mostrar que o são.
Podem seu curiosas, fazer perguntas...
Claro que há as exceções. As de antes e as de agora.
Mas não me venham dizer que dantes é que era bom, que as crianças eram muito educadas, que tinham respeito pelos mais velhos....
A mim, parece-me que são saudades da idade infantil , e só da idade.  De se ser novo. De se ser bonito. De ter a pele fresca. E de pensar, hipocritamente, que se voltássemos a ser crianças eramos muito mais felizes.






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