Hoje, na saída para a passeata da manhã com os cães, a Linda, na brincadeira, fez-me um afago (!) à bruta, que me chegou à boca. Isto é, as patas dela, que tinham andado sobre mijo e mais o que calhou, passaram-me pelas beiças. A primeira reação foi de nojo e vontade de voltar atrás para me lavar, mas não podia deixar os dois sozinhos à vontadinha, não fossem as pestes fazer o que não deviam. O resultado, foi que, ao contrário do habitual, fizemos uma caminhada sem que eu abrisse a boca, não fosse entrar alguma coisa que não devia. Eles, tadinhos, acharam estranho e olhavam muito pra mim. Despachei a coisa o mais rápido que pude e quando cheguei a casa, esfreguei tanto a zona emporcalhada que parece que andei a por botox. Enfim, coisas fofinhas de quem gosta de se armar ao pingarelho com brincadeiras caninas.
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Morre lentamente...
Pablo Neruda