sábado, 17 de dezembro de 2016

A vida real

Lembro-me que as drogas, pelo menos aqui na província (talvez na capital e nas cidades maiores tivesse chegado mais cedo), chegaram no pós revolução. Estava tudo em ebulição com tanta novidade, tantas coisas novas, a chegada de "retornados", de novos hábitos, da tão aclamada liberdade. Felizmente nunca fui aliciada para essas práticas. A ingenuidade, certamente ter-me-ia tramado. Mas muitos dos meus colegas não resistiram  e deixaram-se atar por esse nó cego. Alguns, já morreram. Outros, são, ainda hoje, reféns.
Lembro-me de, aqui em família, termos há muitos anos um Natal diferente. A L. foi presa precisamente a 24 de Dezembro, por posse de droga em quantidade considerada superior à atribuída ao consumo. Foi condenada por tráfico. A L. entretanto regenerou-se. Tem uma relação feliz e uma filha que adotou porque as sequelas  dos anos de vida errante a impediram de ter filhos biológicos. Hoje, a filha da L. é adolescente, precisamente com a idade que ela tinha quando se deixou enfeitiçar. E ela protege-a ferozmente com as mesmas garras que a puta da droga um dia a garrou. Oxalá as dela sejam mais fortes e consiga proteger a sua menina.
Hoje, na comunicação social, vi mais um caso em que um miúdo novo foi morto por alegadamente ter dívidas com traficantes.
E lembrei-me que criei as minhas filhas com tanto medo da maldita.
E hoje tenho duas netas e o medo não adormeceu.

Sem comentários:

Enviar um comentário