"Para ganhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de si que o Ano Novo dorme e espera desde sempre."
Carlos Drummond de Andrade
quarta-feira, 28 de dezembro de 2016
terça-feira, 27 de dezembro de 2016
wonderful world
E não é que eu ouvi um grilo a cantar em Dezembro???
E bem afinado. O pobre ou ainda não morreu de frio, ou resistiu e inaugurou os espetáculos mais cedo.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2016
Papoila na vó
Durmo com ela para a tapar durante a noite.
E porque gosto de adormecer com a mão dela na minha. A mesma mão que, nas curvas do sono, me esborracha o nariz e me esmurra os olhos.
E porque gosto que durante a noite me abrasse com força.
E porque gosto (muitooo) de acordar e vê-la olhar para mim, abraçar-me e dizer-me que gosta muito de mim e de aqui estar.
E porque gostaria que ela se lembrasse sempre disto, como eu me lembrarei.
E porque gosto de adormecer com a mão dela na minha. A mesma mão que, nas curvas do sono, me esborracha o nariz e me esmurra os olhos.
E porque gosto que durante a noite me abrasse com força.
E porque gosto (muitooo) de acordar e vê-la olhar para mim, abraçar-me e dizer-me que gosta muito de mim e de aqui estar.
E porque gostaria que ela se lembrasse sempre disto, como eu me lembrarei.
terça-feira, 20 de dezembro de 2016
Qual Pai Natal, qual quê!!!!!!!!!
Numa visita a Óbidos àquela coisa que eles chamam Vila Natal, Papoila mais crescida não quis saber do Pai Natal e foi direitinha à corda de Slide. E só não fez, porque o equipamento lhe ficava demasiado grande e isso punha em causa a sua segurança. Chorou esperneou e disse que podia muito bem ir porque ia de capacete. E quando lhe disseram que não podia mesmo ser, gritou que esperava lá até poder ir. Com quatro anos ainda incompletos, esta miúda é mesmo radical.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
domingo, 18 de dezembro de 2016
A culpa pode ser das mães
A B. anda angustiada porque o filho se separou depois de mais de vinte anos de casamento.
E eu digo-lhe que, se eles se separaram de comum acordo, foi, certamente, porque chegaram à conclusão de que separados ficariam melhor. Mas ela diz que não, que mesmo que não se entendessem muito bem deviam continuar juntos. Porque assim o pobre do filho não tem uma mulher que lhe faça as "coisinhas". Nem o filho, nem o neto, coitadinho (um matulão com 23 anos) que ficou com o pai.
Lembra-me uma mãe, que, a propósito da toxicodependência dos filhos, dizia que tinha muita pena que se drogassem mas que vergonha era se fossem "panelêros". Esta mãe perdeu os dois filhos. E chorou-os, certamente com muita mágoa. Mas sempre se livrou de os chorar com vergonha, já que não eram "panelêros".
Este paralelismo é constante noutros estigmas. O que nos leva a concluir que, nós, mãezinhas queridas que adoramos os nossos ricos filhinhos, somos capazes de os inquinar com preconceitos bárbaros.
É que nós, pais, não fazemos os nossos filhos apenas no momento da conceção. Continuamos a "faze-los" ao longo da vida. Essencialmente nos primeiros anos, em que somos a sua principal referencia.
Fazer filhos, não é, afinal, uma coisa fácil.
E eu digo-lhe que, se eles se separaram de comum acordo, foi, certamente, porque chegaram à conclusão de que separados ficariam melhor. Mas ela diz que não, que mesmo que não se entendessem muito bem deviam continuar juntos. Porque assim o pobre do filho não tem uma mulher que lhe faça as "coisinhas". Nem o filho, nem o neto, coitadinho (um matulão com 23 anos) que ficou com o pai.
Lembra-me uma mãe, que, a propósito da toxicodependência dos filhos, dizia que tinha muita pena que se drogassem mas que vergonha era se fossem "panelêros". Esta mãe perdeu os dois filhos. E chorou-os, certamente com muita mágoa. Mas sempre se livrou de os chorar com vergonha, já que não eram "panelêros".
Este paralelismo é constante noutros estigmas. O que nos leva a concluir que, nós, mãezinhas queridas que adoramos os nossos ricos filhinhos, somos capazes de os inquinar com preconceitos bárbaros.
É que nós, pais, não fazemos os nossos filhos apenas no momento da conceção. Continuamos a "faze-los" ao longo da vida. Essencialmente nos primeiros anos, em que somos a sua principal referencia.
Fazer filhos, não é, afinal, uma coisa fácil.
sábado, 17 de dezembro de 2016
A vida real
Lembro-me que as drogas, pelo menos aqui na província (talvez na capital e nas cidades maiores tivesse chegado mais cedo), chegaram no pós revolução. Estava tudo em ebulição com tanta novidade, tantas coisas novas, a chegada de "retornados", de novos hábitos, da tão aclamada liberdade. Felizmente nunca fui aliciada para essas práticas. A ingenuidade, certamente ter-me-ia tramado. Mas muitos dos meus colegas não resistiram e deixaram-se atar por esse nó cego. Alguns, já morreram. Outros, são, ainda hoje, reféns.
Lembro-me de, aqui em família, termos há muitos anos um Natal diferente. A L. foi presa precisamente a 24 de Dezembro, por posse de droga em quantidade considerada superior à atribuída ao consumo. Foi condenada por tráfico. A L. entretanto regenerou-se. Tem uma relação feliz e uma filha que adotou porque as sequelas dos anos de vida errante a impediram de ter filhos biológicos. Hoje, a filha da L. é adolescente, precisamente com a idade que ela tinha quando se deixou enfeitiçar. E ela protege-a ferozmente com as mesmas garras que a puta da droga um dia a garrou. Oxalá as dela sejam mais fortes e consiga proteger a sua menina.
Hoje, na comunicação social, vi mais um caso em que um miúdo novo foi morto por alegadamente ter dívidas com traficantes.
E lembrei-me que criei as minhas filhas com tanto medo da maldita.
E hoje tenho duas netas e o medo não adormeceu.
Lembro-me de, aqui em família, termos há muitos anos um Natal diferente. A L. foi presa precisamente a 24 de Dezembro, por posse de droga em quantidade considerada superior à atribuída ao consumo. Foi condenada por tráfico. A L. entretanto regenerou-se. Tem uma relação feliz e uma filha que adotou porque as sequelas dos anos de vida errante a impediram de ter filhos biológicos. Hoje, a filha da L. é adolescente, precisamente com a idade que ela tinha quando se deixou enfeitiçar. E ela protege-a ferozmente com as mesmas garras que a puta da droga um dia a garrou. Oxalá as dela sejam mais fortes e consiga proteger a sua menina.
Hoje, na comunicação social, vi mais um caso em que um miúdo novo foi morto por alegadamente ter dívidas com traficantes.
E lembrei-me que criei as minhas filhas com tanto medo da maldita.
E hoje tenho duas netas e o medo não adormeceu.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
... ainda que no inverno...
.............
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
............
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando
Heterónimo de Fernando
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
Matemática da vida
Soube hoje que um vizinho recém chegado aqui ao campo, foi diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica. Uma doença fatal e tremendamente cruel.
Ele, o meu vizinho, nunca vai comer pinhões dos pinheiros que plantou, nunca se vai sentar à sombra dos sobreiros, talvez nem coma das couves que tem a crescer na horta porque em breve será alimentado por uma sonda e nada lhe vai saber a nada, não brincará mais com as duas cadelas abandonadas que acolheu, não usufruirá do sol ou da sombra das enormes varandas da casa que construiu, não verá outro inverno......porque vai deixar de viver. Mesmo que morra daqui a seis meses (triste equação matemática), o tempo que lhe resta, será para sofrer. Apenas para sofrer.
E os meus problemazinhos ridículos tornaram-se de um momento para o outro menos que pó. Apenas uma pequena nuvem de fumo.
Ele, o meu vizinho, nunca vai comer pinhões dos pinheiros que plantou, nunca se vai sentar à sombra dos sobreiros, talvez nem coma das couves que tem a crescer na horta porque em breve será alimentado por uma sonda e nada lhe vai saber a nada, não brincará mais com as duas cadelas abandonadas que acolheu, não usufruirá do sol ou da sombra das enormes varandas da casa que construiu, não verá outro inverno......porque vai deixar de viver. Mesmo que morra daqui a seis meses (triste equação matemática), o tempo que lhe resta, será para sofrer. Apenas para sofrer.
E os meus problemazinhos ridículos tornaram-se de um momento para o outro menos que pó. Apenas uma pequena nuvem de fumo.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
sábado, 10 de dezembro de 2016
A saude que o dinheiro pode (ou não) pagar
Esta semana, tive consulta de rotina com a minha endocrinologista (as hormonas querem-se harmoniosas como uma orquestra).
Como duas boas conversadoras que ambas sabemos que somos, aproveitamos o tempo da consulta para conversar sobre o que cada uma tinha para dizer, e, entre outras coisas, dizia-me ela que se sente frustrada com o tipo de serviço que é obrigada a prestar no hospital onde trabalha e que se sente uma verdadeira operária da saúde, quando o que ela queria era uma relação de proximidade com os pacientes, fazer com que se sentissem seguros e confiantes, já que de uma maneira quase geral, quem procura um médico vai sempre mais ou menos fragilizado. Dizia ela, que encara a medicina não como uma profissão, mas como uma missão. E que agora, para alem de ter o dobro do trabalho (falava em nome dela e dos colegas que trabalham no SNS), não tem tempo para ser a médica que gostaria de ser e que sempre foi.
E tudo isto, porque o estado, (mas o estado não somos todos nós?) não tem dinheiro para investir mais na saúde.
Efetivamente, com tanta porcaria de tanta informatização, o que antes era apenas do conhecimento do nosso médico, pessoa a quem confiávamos a nossa vida mais intima, agora é do domínio de quem tiver acesso ao nosso cartão. Com isto quero dizer, que, praticamente, qualquer um pode saber qual a duração do meu período menstrual, por exemplo. Porra! Então mas o nosso médico não era como o nosso confessor (lagarto lagarto lagarto)? Um poço sem fundo? Mas isso era antes. Agora, quer queiramos ou não, estamos todos num gigantesco Big Brother. Para alem do aspeto profissional, gosto desta médica também por isto. Por me fazer sentir próxima, informada, e (in)segura.
Quando saí de lá, senti-me mais leve. Primeiro, porque estava tudo bem com a minha saúde, segundo porque fiquei com menos 65 euros na carteira e terceiro, porque podia paga-los e assim ter acesso ao luxo de ser atendida por uma médica como antigamente.
Como duas boas conversadoras que ambas sabemos que somos, aproveitamos o tempo da consulta para conversar sobre o que cada uma tinha para dizer, e, entre outras coisas, dizia-me ela que se sente frustrada com o tipo de serviço que é obrigada a prestar no hospital onde trabalha e que se sente uma verdadeira operária da saúde, quando o que ela queria era uma relação de proximidade com os pacientes, fazer com que se sentissem seguros e confiantes, já que de uma maneira quase geral, quem procura um médico vai sempre mais ou menos fragilizado. Dizia ela, que encara a medicina não como uma profissão, mas como uma missão. E que agora, para alem de ter o dobro do trabalho (falava em nome dela e dos colegas que trabalham no SNS), não tem tempo para ser a médica que gostaria de ser e que sempre foi.
E tudo isto, porque o estado, (mas o estado não somos todos nós?) não tem dinheiro para investir mais na saúde.
Efetivamente, com tanta porcaria de tanta informatização, o que antes era apenas do conhecimento do nosso médico, pessoa a quem confiávamos a nossa vida mais intima, agora é do domínio de quem tiver acesso ao nosso cartão. Com isto quero dizer, que, praticamente, qualquer um pode saber qual a duração do meu período menstrual, por exemplo. Porra! Então mas o nosso médico não era como o nosso confessor (lagarto lagarto lagarto)? Um poço sem fundo? Mas isso era antes. Agora, quer queiramos ou não, estamos todos num gigantesco Big Brother. Para alem do aspeto profissional, gosto desta médica também por isto. Por me fazer sentir próxima, informada, e (in)segura.
Quando saí de lá, senti-me mais leve. Primeiro, porque estava tudo bem com a minha saúde, segundo porque fiquei com menos 65 euros na carteira e terceiro, porque podia paga-los e assim ter acesso ao luxo de ser atendida por uma médica como antigamente.
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
... de cores e de poesia
...
Quando a sílaba das cores
abre as pernas às palavras
os poetas têm dores
como crianças que ladram.
E fazem sulcos na carne
golpes dentro da ternura
até chegarem ao cerne
da primavera mais dura.
Então, acendem-se os poemas
feitos de poesia pura
José Carlos Ary dos Santos
Quando a sílaba das cores
abre as pernas às palavras
os poetas têm dores
como crianças que ladram.
E fazem sulcos na carne
golpes dentro da ternura
até chegarem ao cerne
da primavera mais dura.
Então, acendem-se os poemas
feitos de poesia pura
José Carlos Ary dos Santos
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