Desde que as temperaturas baixaram, tenho feito grandes caminhadas a que gosto de chamar passeios. Não têm ritmo obrigatório, itinerário pré estabelecido nem horário rígido.
Ando por aqui a pé, por onde habitualmente passo de carro, e tudo me parece diferente.
Cumprimento as pessoas em vez de apenas acenar, converso um bocadinho com quem ainda encontro a pé( o que é raro), sento-me com elas no "peal" da porta, aqui apanho umas amoras, ali um figo, acolá uns bagos de uva, vejo com atenção os "jardins" (as plantas são tão democráticas. Tão bonitas são nos jardins do palácio de S. Bento, como no jardim da T., emparedadas por pedaços de madeira podre), aceito e muitas vezes até peço, plantas que me fascinam e que nem sabia que existiam, sinto o cheiro do almoço já ao lume, lavo as mãos nas fontes, tiro umas fotos ....
Ontem passei na aldeia da minha mãe. No centro, onde antes havia tanta gente, já só há casas velhas, a cair. Os velhos morreram, os mais novos saíram ou também já morreram e elas lá estão. O largo onde cabia um reboque de trator como palco, e centenas de pessoas a dançar numa alegria genuína de quem pouco mais pedia à vida, pareceu-me tão pequeno e estava tão triste que me contagiou. Onde naquele tempo faziam o arraial, há agora uma capela tão feia como a que fizeram de novo no monte da E. em substituição da velha que era linda. Na rua, onde se agrupavam os "emigrantes" que tinham ido para Lisboa, e voltavam todos os Setembros para a festa, só passam gatos sorrateiros. A fonte onde a minha avó enchia a bilha de barro e que transbordava tanta agua que chegava para as mulheres lavarem a roupa, já secou. Completamente. Plantaram eucaliptos à volta que acabaram com a água. Os lavadouros públicos, antes sempre cheios de lavadeiras e crianças barulhentas, mais parecem um anexo dos moradores do lado. Onde antes havia vinhas, olivais e searas de trigo há agora eucaliptos.
E ando nisto umas duas ou três horas. Vou continuar.
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