sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Manhã

 
 
Os contos de fadas são assim
 Uma manhã, a gente acorda
E diz: "era só um conto de fadas..."
E sorrimos de nós mesmos
Mas, no fundo, não estamos sorrindo.
Sabemos muito bem que os contos de fadas
São a única verdade da vida.
 

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Ainda há pessoas "bonitas"

A Maria C., minha companheira de caminhadas e que faz o favor de ser minha amiga, é uma beirã que veio parar ao ribatejo e que cedo a vida levou para França.
Por lá ficou mais de quarenta anos, mas sempre com vontade firme de voltar para Portugal. Assim que lhe foi possível, tratou de comprar por aqui, terra que a acolheu e que tem como sua, uma casinha e um pedaço de terra para onde vinha sempre que tinha possibilidades.
Agora voltou de vez. E é até emocionante, ver não só o apego que tem pelo que a tanto custo conquistou, como o respeito com que trata todos à sua volta, incluindo animais e plantas. Todos os dias, chova ou faça sol, sozinha ou acompanhada por quem para isso tiver pedalada, lá vai ela, campos fora, sem nunca chegar a casa sem mais uma planta para juntar às "amiguinhas" que já tinha e que trata com um zelo, um cuidado, um respeito e uma sabedoria que me impressionam. Conhece mais plantas daqui, do que eu, aqui nada e criada. Sabe tudo sobre elas e protege-as com um carinho admirável.
Animal que por lá lhe apareça, tem sempre comida e água.
Gosta de conversar com toda a gente e nunca tem pressa.
Com tanta "desfé" nas pessoas como eu tenho tido, sabe-me muito bem ter por perto uma pessoa como a Maria C.


terça-feira, 20 de setembro de 2016

"Des"equilibrio

"Eu sou feita de tão pouca coisa e meu equilíbrio é tão frágil, que eu preciso de um excesso de segurança para me sentir mais ou menos segura."
Clarice Lispector

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Olimpicos/Paralimpicos

Agora que terminaram os jogos paralímpicos, vem a propósito expor aqui a minha opinião sobre o resultado dos jogos Olímpicos para os atletas portugueses.
Como sabemos, estes jogos são a competição desportiva mais importante para qualquer atleta. Participam os melhores dos melhores, os que tiveram melhores condições para conseguir o apuramento e os que, mesmo em desigualdade de circunstancias, ainda assim, conseguiram apurar-se.
A meu ver, aos atletas, e ao contrário do que muitos portugueses manifestaram, não devemos exigir medalhas. Afinal, e como os próprios argumentam, têm condições de trabalho muito inferiores aos seus adversários que são sempre, os melhores dos melhores.
Agora, ver um atleta que ficou quase no fim da tabela numa final, todo contente porque sentia que até tinha ganho uma medalha, isso é que eu nunca vou entender. Que não consigam ficar em primeiro, é até compreensível, agora que se contentem com isso faz-me imensa confusão. Então o objetivo de quem participa numa competição não é sempre ficar em primeiro? Se fosse eu, chorava baba e ranho até se ficasse em segundo, que é o primeiro dos últimos.
Como eu compreendi aquele atleta paralímpico, que perante a derrota chorou e até pediu desculpas por não ter conseguido.....
Não precisava de se desculpar. Porque quem não consegue, não consegue. Paciência. Mas aquela sim, foi a manifestação normal de quem joga para vencer.
Parabéns aos nossos atletas Paralímpicos por serem tão orgulhosamente competitivos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Será nostalgia?

Desde que as temperaturas baixaram, tenho feito grandes caminhadas a que gosto de chamar passeios. Não têm ritmo obrigatório, itinerário pré estabelecido nem horário rígido.
Ando por aqui a pé, por onde habitualmente passo de carro, e tudo me parece diferente.
Cumprimento as pessoas em vez de apenas acenar, converso um bocadinho com quem ainda encontro a pé( o que é raro), sento-me com elas no "peal" da porta, aqui apanho umas amoras, ali um figo, acolá uns bagos de uva, vejo com atenção os "jardins" (as plantas são tão democráticas. Tão bonitas são nos jardins do palácio de S. Bento, como no jardim da T., emparedadas por pedaços de madeira podre), aceito e muitas vezes até peço, plantas que me fascinam e que nem sabia que existiam, sinto o cheiro do almoço já ao lume, lavo as mãos nas fontes, tiro umas fotos ....
Ontem passei na aldeia da minha mãe. No centro, onde antes havia tanta gente, já só há casas velhas, a cair. Os velhos morreram, os mais novos saíram ou também já morreram e elas lá estão. O largo  onde cabia um reboque de trator como palco, e centenas de pessoas a dançar numa alegria genuína de quem pouco mais pedia à vida, pareceu-me tão pequeno e estava tão triste que me contagiou. Onde naquele tempo faziam o arraial, há agora uma capela tão feia como a que fizeram de novo no monte da E. em substituição da velha que era linda. Na rua, onde se agrupavam os "emigrantes" que tinham ido para Lisboa, e voltavam todos os Setembros para a festa, só passam gatos sorrateiros. A fonte onde a minha avó enchia a bilha de barro e que transbordava tanta agua que chegava para as mulheres lavarem a roupa, já secou. Completamente. Plantaram eucaliptos à volta que acabaram com a água. Os lavadouros públicos, antes sempre cheios de lavadeiras e crianças barulhentas, mais parecem um anexo dos moradores do lado. Onde antes havia vinhas, olivais e searas de trigo há agora eucaliptos.
E ando nisto umas duas ou três horas. Vou continuar.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Memorial


Olhando assim de longe para a serra de Montejunto, eu, cheia de fome e já Blimunda, vejo a passarola do Padre Bartolomeu levantar voo em direção ao sol, carregadinha com as minhas duas mil vontades. Chega-me aos ouvidos a musica de Scarlatti.
Até já Sete Sóis.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Azul mais azul

Lindo azul!Verão pra quê??? Venha o Outono "faxavor"!!!!!!!!!!!!
Voltei a respirar!!!!!
Chega de calor!

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

O Ti João C. e a Tia E.

Referir no post anterior a palhada que o Ti João C. dava às vacas, não foi por acaso.
É que tanto ele como a tia E., foram das pessoas mais queridas da minha infância.
Ela, cheia de energia, sempre a falar alto, curvada pelos anos, com os poucos dentes que tinha sempre à mostra ( nunca percebi se era um sorriso, um tique ou uma careta provocada pela dor dos joanetes).
Calçava sempre sapatos uns três números acima. Era generosa e tratava os sobrinhos-netos como se fossem seus netos.
Ele, homem alto e de poucas falas, muito sereno e lento nos gestos, tinha uma calma contagiante. Não ria alto mas tinha sempre um sorriso e um afago para a pequenada. Eram "primos carnais" mas tiveram três filhos "sãos e escorreitos".
A casa, tinha um grande pátio de terra batida e por esta altura, férias grandes, quando nos juntávamos netos e sobrinhos-netos, era uma brincadeira pegada à sombra do enorme sobreiro. Cheirava a rosas, pão quente e bosta de vaca. A minha avó, irmã da Tia E. ia lá muitas vezes costurar na velha máquina de costura e enchia a canela de barco ( as coisas de que eu me lembro) à mão.
A casa de costura era grande. Tinha uma cama de ferro com uma colcha de retalhos feita pela tia, as talhas do azeite, a das azeitonas ( conduto frequente ), a arca do trigo, outras arcas onde guardava as mais variadas coisas e nas paredes, tinha penduradas maçarocas e o sobretudo do tio. A máquina, ficava mesmo em frente da janela por onde podíamos entrar e sair porque era baixa. Lembro-me com perfeição do quadro com pássaros com uma moldura muito brilhante, que agora penso que seria de madrepérola.
À hora do lanche, havia pão caseiro com banha ( a que eu chamava manteiga branca) ou com alguma compota que a tia tivesse feito. Quando a víamos chegar com um prato tapado com a ponta do avental, já sabíamos que também havia bolachas, biscoitos e rebuçados de meio tostão, embrulhados em papel às bolinhas, cada sabor com sua cor.
Enfim, era uma casa farta.
Albergou sobrinhos casados à pressa e amigos recém chegados das ex-colónias.
Quando o tio ia tratar as vacas, juntavamo-nos todos à volta da pia redonda feita por  ele e viamo-lo preparar a palhada com muita atenção: palha, sêmeas de trigo que sobravam da peneira da tia, milho ou outro cereal. Juntava água e misturava tudo já com a barulheira das bichas que berravam e tocavam os enormes chocalhos já a intuir a proximidade da refeição. Foi lá, que vi pela primeira ( e única ) vez, nascer um bezerro e fiquei espantada quando o vi levantar-se quase de seguida.
Quando ficava fresco, lá íamos numa gritaria para a grande figueira que por esta altura estava pejada de figos-rei. Os meninos subiam mas as meninas, não. Ficavamos no chão porque tínhamos vestidos e mostrávamos as cuecas. E era feio. Eram dias de brincadeira e alegria.
Com o tempo, ai o tempo, tudo mudou.
Os tios morreram e dois dos seus filhos também.
Agora, os portões sempre fechados, guardam apenas as minhas lembranças e o que os ratos já desistiram de roer. Debaixo do telhado da adega, que já caiu, jaz o carro de bois com varais de pau verticais e onde eu gostava de me empoleirar, as ferramentas do tio, que era pedreiro, carpinteiro e mais umas sete artes para alem de boieiro, os tonéis, o lagar, a prensa, a lareira onde a tia curava os enchidos e o que restava, à sua morte , do que lá armazenava.
O pátio, gigantesco, pelo menos na minha memória de criança, já deve ter mato. Das janelas, já saem silvas, sinal de invasão interior. A figueira, tapada de mato, já não dá figos ( era agora). Só as rosas, uma ou outra, teimam em espreitar por entre as ervas que tapam a roseira. Se passar a pé ainda lhes sinto o cheiro. Se passo de carro, não olho. Faz-me pena. E saudade.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Comer... mas só com os olhos

Pululam  por aí, fotos de todo o tipo de doces "saudáveis", feitos à base de flocos de aveia, farinha de centeio integral de outras farinhas igualmente integrais ( agora é moda saber ou finjir cozinhar)com frutos vermelhos e tão bonitas e apetitosas que apetece lamber o ecrã.
Vai-se a ler..... e não têm açucar!
A bem dizer, devem ser tão boas como a palhada que o Ti João C. dava às vacas.
Ora eu, absolutamente inábil na arte de confecionar alimentos, pensava que os doces eram isso mesmo: doces.
Mas já percebi!! Elas não comem aquilo. Náah! É mesmo só pra fotografia.
Comer... só se for com os olhos.