quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Os sons...e os cheiros
Há dias, na televisão, vi com pouca atenção uma peça sobre um homem, português, que estava a fazer uma recolha de sons.
Sons rurais, parece-me, já que não vi com muita atenção, daqueles que estão em vias de extinção.
Eu, felizmente, tenho na memória muitos desses sons e até alguns que ele já não vai a tempo de gravar. Já se extinguiram.
E lembrei-me dos cheiros.
Dos cheiros do passado.
Uns que me trazem boas lembranças... outros nem por isso.
Mas todos eles já extintos.
Lembro-me do cheiro do café da avó T, do cheiro do celeiro, e do que saia da arca grande de cada vez que ela a abria para tirar o trigo para dar ao moleiro e que na semana seguinte já vinha em farinha para a cozedura da semana.
E do cheiro do pão tendido dentro do tabuleiro.
Do cheiro do forno quente.
Do cheiro a rosas de açafate que entrava pela janela do quarto quando ficava a dormir na casa da avó T. e me levantava quando os galos todos resolviam cantar ao mesmo tempo.
Do cheiro da canja de galinha caseira que a minha avó T. fazia quando havia festa e ela convidava todos os sobrinhos. Se fossem todos nem cabiam em casa. Mas os que iam faziam a festa e deitavam os foguetes.
Do cheiro da casa da minha avó R.
Do cheiro do "guarda comidas" onde ela guardava sempre umas coisas boas que eu adorava.
Do cheiro das misturadas que ela fazia ao lume.
Do cheiro da saia dela quando me deitava no seu colo para que me coçasse as costas.
Estes eram cheiros tão bons...
Mas também havia os que não me deixam saudades.
Lembro-me do cheiro a roupa molha e mofo durante todo o dia na escola quando chovia e as meninas que vinham de longe ficavam encharcadas.
Do cheiro a cera das velas da igreja quando tinha de ir ao terço no intervalo da escola.
Do cheiro a pó de quando ao sábado tínhamos de varrer a escola e cantar o hino nacional.
Do cheiro do confessionário quando era obrigada a confessar-me ao padre.
E é melhor ficar por aqui...
Não quero ficar deprimida!
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