Vivi a minha infancia e juventude num meio muito rural, em que as tradições eram seguidas quase à risca.
Não sou pessoa de saudosismos, nem tenho particulares saudades desses tempos, mas o dia de apanhar o raminho das espigas era francamente um dos meus preferidos.
Hoje, que moro novamente no mesmo sitio e por acaso alguem me lembrou, fui dar uma volta para apanhar um raminho.
Em vão.
Espigas de trigo já não as há. Não há searas. Nem moleiro à quarta feira, o Sr. Abel.
Nem a vista da casa da minha avó T. em que a seara da encosta em frente parecia um mar de ondas suaves.Nem crianças a cantar e a rir como naquele tempo. Nem pão caseiro.
Há outras coisas.
As coisas destes tempos.
As terras estão todas trituradas e aplainadas para receberem as searas de tomates e pimentos, a padeira vem às oito da manhã com pão sem sal, as crianças não têm direito a brincar no caminho da escola para casa porque vêm num autocarro gigante e têm os papás à espera e não podem dar dois passos sozinhos.
Enfim...não há searas de trigo, nem moleiro, nem crianças felizes, nem papoilas...e se calhar...ninguem se lembra que hoje é o dia da espiga.
Sem comentários:
Enviar um comentário