quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Lindos de morrerrrrrr

 Quando eu era criança e dormia em casa dos meus avós maternos, tinha que me deitar logo ao anoitecer. Os meus avós estavam cansados das lides no campo e a noite era pra descansar. Mas as noites lá em casa, pra mim eram pouco descansadas. É que a minha avó tinha um relógio de parede, que badalava ás horas certas e meias horas. Se me deitasse ás nove, pouco tempo depois de adormecer, lá tinha que acordar com dez longas badaladas, voltar a adormecer, voltar a  acordar com onze e tentar resistir ás doze se já estivesse em sono profundo. Ao alvorecer, tudo voltava, a cada hora com mais badaladas e eu com cada vez mais vontade de estraçalhar aquele objeto de tortura. Mas isto foi há cinquenta anos!

Agora, 2024, eu senhora idosa, sono mais frágil e um casal de pavões que diariamente celebram o nascer de mais um dia. Lindos, lindos, lindos. Mas, a cada alvorada, volto a ouvir as doze badaladas do relógio da minha avó. Irada, apetece-me tirar-lhes a corda. E acabar com berros ensurdecedores ao amanhecer. Não me provoquem! Sem sono dormido sou imprevisível!

1 comentário: