domingo, 31 de dezembro de 2023

Desabafos de uma totó

 Para uma agnóstica como eu, o Natal, é apenas uma grande confusão, luzinhas, musiquinhas, prendinhas, hipocrisiazinhas, merdinhas, e coiso e tal. Exceção ao aniversário de Papoila mais crescida que teve a pontaria de nascer a 24 de Dezembro e faz a data ter outra cor. Mas, espiritualidades à parte, as festas (como se costuma dizer), são uns dias tramados pra saudade. Talvez pela idade avançada, já tenho muitas lembranças, muitos natais tão diferentes dos de agora. Se eu bem entendo, o presépio, símbolo do natal, é a autentica representação da humildade. Não da ostentação. Que saudades de quando não havia pai natal! Daquela noite interminável até à manhã em que íamos à chaminé com tanta emoção ver o que o menino jesus nos tinha trazido. Até das simples couves com bacalhau da ceia. E da azáfama dos fritos à lareira. Dos coscurões da tia D, das azevias da tia N. Cheirava a Natal. A simplicidade. No dia 25, o meu pai vestia as calças de terilene, a camisa de tv, o melhor casaco e ia à missa tão sério, tão solene, como se o menino jesus fosse da nossa família e todos estivéssemos de luto. O almoço era melhorado, sem exageros. Comia-se a melhor galinha, com sorte um arroz doce feito sem vontade pela minha mãe e os chocolates que o aniversariante nos tinha enfiado chaminé abaixo. À tarde, como bons cristãos, distribuíamos as nossas guloseimas pelos ainda mais pobres a quem jesus não tinha descoberto a morada. Ou a chaminé, vá.

E agora fico-me por aqui, não vá isto dar chuva de lágrimas. E não é por hoje me ter esparrameirado no chão e ainda levado uma mocada com um tijolo na tola. É que me faltam as pessoas que já foram. E nesta altura, vá-se lá saber porquê, estão ainda mais ausentes.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Deve ter uns vinte anos

 

Mas é, das três, a mais brincalhona. E não é à toa que dorme bem perto dos seus pompons.
Querida Mimi! Estou a aproveitar todos os momentos com ela, consciente de que não será por muito mais tempo. 

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Êxtase

 A genialidade de Michelangelo é coisa pra me deixar impressionada ao ponto de, quando vi a Pietá, não ter tido a calma e a serenidade de observar com olhos de ver bem, o que, momentos depois me pareceu uma miragem, coisa da minha cabeça de vento. Estava tão espectante, tão ansiosa, que só passados alguns minutos e já longe da obra, me apercebi do privilégio desperdiçado. Remoí pra mim, que quando tivesse a proxima oportunidade, iria admirar e interiorizar tudinho ao mais ínfimo pormenor com calma e muita tranquilidade.

Pois que não foi bem assim! Euzinha, mirrada, quase de pés no ar a cheirar sovacos, a chegar mesmo em frente a David, cansada e suada que nem uma mula e com vontade de me esparrameirar em frente a tão grandiosa visão. Mas desta vez, apesar de me parecer ainda impossível tão privilegiada realidade, ter ficado muda  e queda, vi David com a admiração merecida. E que pena que essa prerrogativa , não seja possível ou desejada por todos. Por momentos, cresci à altura do herói bíblico, admirei os rigorosos pormenores anatómicos e, mentalmente, mandei à fava aquela multidão barulhenta e alheia à dimensão artística do "modelo". Pronto, não me foi fácil, mas desta vez, nada me desviou do meu foco.

Nota(s) negativa(s), o preço da entrada na Academia e a quantidade vergonhosa de visitantes admitidos em simultâneo. Inadmissível!   


domingo, 5 de novembro de 2023

Papoila mais crescida...

 ... olha o Arno introspetiva, já com alguma nostalgia (e muito cansaço).

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A mãe - Bem, vamos embora?

Ela - Tinhas que estragar a minha vibe!!!!!!

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Normalizou-se a hipocrisia

Se há coisa que me faz caspa, é a hipocrisia que transborda por aí, principalmente nas chamadas "redes sociais".

Ai de quem se atreva, numa dessas redes ou em qualquer outro meio de comunicação, a referir-se a uma pessoa de raça negra como preto. Tenho a certeza que, quem quiser ofender uma pessoa dessa cor, não vai certamente chamar-lhe preto. Chamar - lhe - há outra coisa qualquer. Sempre tive vizinhos e amigos pretos por quem tive e tenho a mesma consideração que qualquer outra pessoa, de qualquer cor, me mereça. Os primeiros bonecos que comprei às minhas filhas eram pretos. Ainda por aí andam. Os meus "primeiros filhos do coração" eram e são da raça. Adoro-os! Se alguem se referir a mim como branca, não me ofendo. Apesar de ser ariana (a puxar pra moura, vá), não sou branca. No maximo, beje. Brancas são as paredes do Alentejo. Nenhum negro (?) se deve ofender se lhe chamarem preto, assim como nenhum ariano deve ofender-se se lhe chamarem branco. Afinal, nem uns são pretos nem os outros brancos. Deixemo-nos de merdas.

Os LGBT  são mais um grupo de "vitimas". Enquanto os elementos das chamadas "minorias" andarem com choraminguiçes a exporem-se nas "redes e afins" em poses escandalosas, serão vistos como aberrações. Deixem-se lá de paradas gays. Já viram paradas hetero? São os LGBT, que eu respeito e em cujo grupo se incluem muitas pessoas de quem eu gosto muito e que admiro, que devem  viver a sua vida  na maior normalidade, cagando para os hetero sem queixinhas ou sentimentos de inferioridade. Orgulho precisa-se!

Já os gordos, esses,  coitadinhos, não podem ser referidos como gordos. É booling do pesado! Mesmo que, à mesa com quem tem brio em cuidar da saúde sem que para isso sinta que faz sacrificios, goze à grande e faça alarde do prazer que se tem em encher bem o bandulho, sem ter de contar calorias. Gosto de gordos, de magros e dos assim assim. Por outros motivos, excluindo o peso. Agora não me cabe na mona, como é que uma pessoa que é gorda fica ofendida com tal designação. Não me lixem!

Os velhos, grupo ao qual eu pertenço, nunca se sentiram ofendidos por os novos os chamarem de velhos. Sentem-se ofendidos é com as tremendas maldades, abandono, achincalhamento e desrespeito com que são tratados pelas pessoas "fofinhas" que lhes chamam idosos. Quando eu era criança, aos bisavós chamavamos "avós velhos". Eram os nossos pais que assim nos ensinavam. E não era para os ofender. Era como que uma vénia ao seu estatuto de velhos. Agora não se pode, é feio. Feio é ser hipócrita!

E para cúmulo da hipocrisia, há nas tais "redes"  pessoas que se mostram diariamente com a maior pouca vergonha com o intuito de ganhar seguidores e com isso, dinheiro. Mais intimidade exposta, mais seguidores. Mais seguidores, mais dinheiro. E com todo o direito. Cada um deve ter o direito de fazer da sua intimidade o que bem entender. Mas quem segue essas pessoas, tambem se sente no direito de comentar como bem lhes apetece. Mas não pode!!! Seguidor que é fofinho não pode fazer comentário feio. Ai ai! Assim serão cancelados e não poderão usufruir do privilegio de pertencer ao séquito de tão 
ilustre influencer.

Se as minhas avós viessem agora à terra, voltavam logo a correr pro céu.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Traquiniçes da minha mai nova

 

Lindinha de sua dona! (Perdão", TUTORA. Não vá aparecer por aqui a CPC coiso e tadinha da minha bichinha ainda se me é retirada)

domingo, 20 de agosto de 2023

Amarga realidade, em português doce do Brasil

 "UMA TRISTE REALIDADE

No final da tarde fria, recebo a visita inesperada dos meus dois filhos. Um é médico, o outro engenheiro. Ambos bem sucedidos em suas profissões.
Há menos de uma semana, sofri a morte da minha amada esposa. Ainda me sinto abalado pela perda que mudou o rumo e o sentido da vida para mim.
Sentados na mesa da sala de uma casa simples e simples, onde moro agora sozinho, começamos a conversar. O tema é sobre o meu futuro. Um frio está me correndo pelas costas. Logo eles tentando me convencer de que o melhor pra mim é viver em um lar de idosos.
Eu reajo... Argumento que a sombra da solidão não me assusta e a velhice, muito menos. Mas meus filhos insistem "preocupados"? Lamentam, entretanto, que as dependências dos seus amplos apartamentos à beira-mar estejam ocupadas e, portanto, eu não possa estar nem com um, nem com outro... assim dizem eles. Além disso, meus filhos e noras vivem ocupados. Então eles não teriam como me ver. Isso sem contar com meus netos, eles estudam quase o dia todo, impossível.
Em meu favor, argumento já sem muita convicção que, nesse caso, eles bem poderiam me ajudar a pagar uma cuidadora. Na minha frente, o médico e o engenheiro dizem que seria necessário, na verdade, "três cuidadoras em três turnos e todas com carteira assinada". O que seria, em tempos de crise, uma pequena fortuna no final de cada mês.
Me recuso aceitar a proposta de morar em um abrigo. E aqui vem outra sugestão: eles me pedem que eu devo vender a casa.
O dinheiro servirá para pagar as despesas da casa para onde eu vou por um bom tempo, para que ninguém se preocupe. Nem eles, nem eu.
Eu me rendo aos argumentos por não ter mais forças para enfrentar tanta ingratidão e frieza. Fechei meus lábios e não falo do sacrifício que fiz a vida inteira para financiar os estudos de ambos. Não digo que deixei de viajar com a família para algum passeio, frequentar bons restaurantes, ir a um teatro ou trocar de carro para que nada lhes faltasse. Não valeria a pena alegar tais fatos nessa altura da conversa. Daí, sem dizer uma palavra, eu resolvo juntar meus pertences. Em pouco tempo, vejo uma vida inteira resumida em duas malas. Com elas, embarco para outra realidade, muito mais difícil. Um lar para idosos, longe dos filhos e netos.
Hoje nos braços da solidão reconheço que pude ensinar valores morais aos meus filhos.
Mas não consegui transmitir a nenhum dos dois uma virtude chamada GRATIDÃO.
A culpa é nossa pelo quanto sempre lhe estamos dando o que eles querem ou pedem, quando devemos ensinar-lhe que eles devem "ganhar".
O quê? Trabalhando com esforço, ajudando a limpar a casa, cozinhar, lavar louça etc. , para quando chegarem a adultos saibam que as coisas se conseguem com esforço e sejam responsáveis e gratos, amem seus pais por terem ensinado a serem bons filhos.
A juventude atual te procura quando quer algo, quando precisa de você, mas como é lógico existem suas exceções.
A gratidão tem que ser forjada, não vem incluída no coração dos humanos, a não ser que tenha sido incutido amor e temor a Deus em primeiro lugar.
Peço desculpas por manifestar o que penso, mas devem saber que quando se tornarem "velhos" vão querer ser bem tratados pelos seus filhos e/ou netos e isso não se consegue com dinheiro mas sim com a bondade plantada nos seus corações.
Haverá pais que estão a tempo de forjar sentimentos.
Deus tenha misericórdia das novas gerações.
"Para os últimos tempos haverá filhos amadores de si mesmos, indiferentes, egoístas, vangloriosos, desleais que gozam da injustiça e se afastam da verdade"»
(anônimo)
Todas as reaçõe
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segunda-feira, 7 de agosto de 2023

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Morreu a D. Nazaré

 Nasceu em pleno Ribatejo, em familia abastada, em S. João da Ribeira. De baixa estatura mas coração imenso, deixou em todos os que com ela privaram, uma lição de cidadania inesquecível. Teve uma vida longa e cheia. De anos, de apego à sua terra e de força e resiliência para a divulgar, de sonhos e vontades, e, essencialmente, de obra feita. Tanto haveria a dizer sobre esta mulher e tanto seria tão pouco. Morreu a ultima "senhora" de S. João da Ribeira. Foi a enterrar, em campa rasa, ao som do Fadinho do Ti Januário, magistralmente tocado ao acordeão pelo João Zambujo. As proximas palavras, são do Grupo de Danças e Cantares de S. João da Ribeira

"IN MEMORIAM

O Grupo de Danças e Cantares de São João da Ribeira soube hoje do falecimento da sua Presidente de muito tempo, a D. Nazaré Varela – desaparecimento que sentimos com muita dor.
A nossa querida Nazaré Varela, ilustre filha de São João da Ribeira, pegou no Grupo de Danças e Cantares de São João da Ribeira na década de 90, transformou-o, integrou-o na Federação do Folclore Português, tornando-o num dos dignos representantes do folclore ribatejano. Líder inata, preocupada com a preservação da memória da terra que a viu nascer, sonhou com um Museu em São João da Ribeira que fosse o guardião dessas memórias. Nasce assim, através da sua liderança, o Museu Rural e Etnográfico de São João da Ribeira, de que todos nós temos muito orgulho.
Acompanhou o grupo até muito recentemente, orientando-o sempre na feitura dos seus trajes, os últimos ainda este ano. As palavras aqui escritas não chegam para descrever o quão importante esta Senhora era para nós, fica aqui a grata lembrança deste grupo que, pode dizer-se, a sente como uma mãe, e que ela, com toda a certeza, sentia como um filho!
Fica a memória daquela referência que envergava o seu trajo, cópia de um de sua avó, com o maior orgulho, interpretação e sentimento. Fica a memória daquela voz materna que apresentava o Grupo em palco, como só ela sabia fazer.
Ouvimos hoje, como ontem, a sua voz a despedir-se, tendo por trás a doce melodia do seu Fadinho do Ti Januário.
O Grupo de Danças e Cantares de São João da Ribeira endereça à família as mais sentidas condolências e um abraço reconfortante nesta hora de despedida.
Nunca com tanta propriedade se pode afirmar: morreu alguém em São João da Ribeira.
Não será esquecida!
Requiescat in pace
O velório realiza-se a partir das 18h de hoje, realizando-se missa de corpo presente às 21 h, na Igreja de São João da Ribeira (segunda-feira). Dia 1 de Agosto (terça-feira), às 9:30h, dá-se a última encomendação, seguindo para o cemitério de São João da Ribeira.
A Direcção"
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Todas a

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Deixa-me ser tua mãe

 Gosto de ver as minhas filhas a exercer com tanto zelo o papel de mães. Cada uma a fazer de tudo pra ser a melhor das mães. E são. Porque todas as mães que fazem o melhor que podem estão sempre a ser as melhores. Perfeitas na complexa imperfeição que é ser mãe. Ainda hoje, dou por mim a dizer aquelas frases inúteis " quando chegares diz", " estás bem? " e mais umas quantas a que elas não ligam nenhuma, obviamente. E nem elas sabem que todos os dias fico doidinha para as lembrar "lava os dentes",  "põe protetor",  "come fruta, "comeste bem?". É que elas ainda não sabem que a maternidade não se extingue com a maturidade dos filhos. Nem sabem que o que mais me apetece dizer-lhes é "deixa-me ser tua mãe!"

terça-feira, 18 de julho de 2023

Cultura Popular

 Interrompido durante a pandemia, este ano o Grupo de Danças e Cantares de S. João da Ribeira, retomou  o seu já "velhinho" festival de folclore. Porque cada grupo (ou rancho, habitualmente chamado), é um museu. Cada traje, cada adereço, cada dança, cada musica, são cultura. Cultura popular. Tão importante como a erudita. Este ano, participaram, o Grupo Folclórico de Lanheses-Viana do Castelo (Alto Minho), o Rancho Folclórico de Canelas-Vila Nova de Gaia (Douro Litoral), o Rancho Folclórido de Barreira-Leiria (Alta Estremadura), para alem do grupo anfitrião. Não é fácil manter tradições. Os mais velhos vão morrendo e os mais novos nem sempre estão "disponíveis". Mas em S. João, aldeia ribatejana, ainda há um bom punhado de gente valente, resiliente e com um verdadeiro sentido cívico. 














 


quarta-feira, 5 de julho de 2023

Ir ou voltar?

 Desde a pandemia que sinto que as minhas prioridades mudaram um pouco. Ou talvez não seja bem assim mas vai dar ao mesmo. Danadinha que eu sempre fui para ir, começo a achar que o melhor de partir é chegar. Talvez seja só hoje, e amanhã já não seja bem assim.

quarta-feira, 21 de junho de 2023

De Eugénio de Andrade

" HOJE, ROUBEI TODAS AS ROSAS DE TODOS OS JARDINS, E CHEGUEI AO PÉ DE TI DE MÃOS VAZIAS."

quarta-feira, 14 de junho de 2023

Quando um restaurante não é apenas um sitio onde se come

 



Esta é a Adega do Luis. Do senhor Luis, que trocou a vida de abundançia nos Estados Unidos, há vinte anos, pela vida saudável na sua aldeia em portugal. Todos os legumes que se comem neste restaurante, são de produção própria. Porque o Senhor Luis só abre a sua adega como restaurante às sextas, sábados e domingos. Porque gosta de servir qualidade, porque precisa de tempo para cultivar a sua horta, porque leva a vida com alegria e muita calma. Comer neste restaurante, não será, talvez, tão barato como a rusticidade do espaço pode fazer crer. Mas a qualidade tem um valor acrescentado e conversar com o Senhor Luis, é querer fazer como ele. Mandar à merda o consumismo estupido e focarmo-nos no essencial. No autentico. No saudável. No são. No que é genuinamente bom.


quinta-feira, 8 de junho de 2023

A chegar aos escaparates

 Vinha linda (ela é mesmo linda), sorridente e muito simpática como sempre, com o seu livro na mão. O livro dela. Da Joaninha. E não é dela porque o comprou! É dela porque o escreveu. A Joaninha que nasceu ontem e hoje já me apareceu aqui com um livro escrito por ela. E até já esteve na feira do livro! A vender o seu livro, claro. É irmã, filha e neta de pessoas de quem eu gosto muito. Tambem por isso, fiquei tão contente com este feito da Joaninha. E eu gosto tanto de ver que ainda há jovens que gostam de livros. De os ler, e, melhor ainda, de os escrever. Ainda não o li. Chegou agora. Vou lê-lo, certamente, como quem lê um livro de uma filha. Só pela coragem, a Joaninha merece a minha admiração. Sem críticas. Só com enlevo. Brevemente nas livrarias (Wook, Bertrand, Fnac)


De Joana Zambujo de Oliveira


terça-feira, 23 de maio de 2023

domingo, 21 de maio de 2023

A G é Educadora de Infancia

 Mas não trabalha numa escola ou colégio. Não! A G é Educadora de Infancia no Hospital de Santa Maria. Agora, trabalha com os meninos e meninas que estão em Hospital de Dia. Mas já trabalhou com meninos e meninas que nunca mudavam de sala. Porque não faziam mais um ano. Meninos e meninas que deixavam de fazer anos. A G diz que, por isso, passou a encarar a vida de uma maneira diferente. Porque no trabalho da G a morte era esperada. Para os seus meninos e meninas. Agora, com mais de sessenta anos, e à beira da reforma, a G diz que não sabe se haverá quem a substitua. Porque os mais novos talvez não tenham a coragem de levar normalidade a meninos e meninas que não mudam de sala. A G passou a fazer parte da minha galeria de Pessoas Especiais.

quarta-feira, 17 de maio de 2023

quinta-feira, 11 de maio de 2023

Superação

 Quem me conhece, sabe que sou pouco (nada) dada à espiritualidade. Recentemente, fui desafiada a fazer uma peregrinação a Fátima. Pessoa que gosta de desafios e conhecer os seus limites, anuí, não sem algumas reservas. Reservas, apenas, em relação à minha capacidade fisica para tão grande empreitada. Dois dias antes, fiquei um dia sem comer, por conta de uma grande lambarice. Comi uma quantidade enorme de nêsperas e fiquei com as entranhas às voltas sem conseguir engolir nadinha. No dia seguinte, uma constipação das grandes, dores no corpo, indisposição desgraçada tudo junto com duas noites mal dormidas. Mas no dia combinado lá fui. Diminuída nas minhas capacidades físicas e anímicas, lá vou eu, convencida de que nos primeiros quilómetros cairia pro lado. Ná!!!! Primeiros dez quilómetros num ápice e sem nenhuma dificuldade. Subir serra e descer serra, já com a lingua quase de fora, mas muito bem acompanhada e cheia de vontade de superar o papão  da distância. Até aos vinte quilómetros a coisa foi andando. Até que, a malta quis parar para comer e descansar durante mais tempo do que até ali. E foi o nirvana! Comer, beber, despejar a bexiga, rir, brincar, malta SÓ faltam pouco mais de dez quilómetros! É verdade que nos deu algum ânimo, mas tambem é verdade que,  fisicamente, não foi fácil voltar a "aquecer". A partir dali, foi a dificuldade. E mais dificil ainda foi chegar è entrada de Fátima, ali mesmo a tirar foto à placa e ter pela frente quase três quilómetros.  Até ali, apesar de termos seguido trilhos assinalados para peregrinos e não termos avistado nem um ponto de apoio ou até, no mínimo, um banco de pedra pra nos sentarmos a beber água, chegados a Fátima, tudo se repetiu. Da placa até ao santuário, nem um banco. Precisamente quando os peregrinos mais necessitam de um pequeno descanso. Nalguns sítios, nem passeio. Só terra com pedras soltas, o caus para os nossos pés já tão doridos e cansados. Já no santuário, não há trocos pra quem comprar velas. Se quiser pode enfiar a porra da nota dentro da greta, mas "AQUI NÃO HÁ TROCOS". Fiquei com a convicção de que em Fátima, tudo gira à volta do lucro à custa de quem, em sofrimento pelos mais variados motivos, ali procura apoio e ajuda. Deceção completa.

Mas, apesar de tudo, afirmo com o maior orgulho, que foi um dos melhores dias da minha vida. Partilhar dificuldades, superar medos e espectativas, criar uma relação de união tão peculiar, fez aumentar entre nós uma certeza de que juntos somos mesmo mais fortes. Apertamos laços e ficamos mesmo com a certeza de que deviamos ter sempre presente  UM POR TODOS E TODOS POR UM. Obrigada filhas! Obrigada Sr. A! Foi um dia de boas aprendizagens. E muitas certezas.

quinta-feira, 4 de maio de 2023

Manhouce, a aldeia onde nasceu a mais bonita voz de Portugal

 




" Ser de Manhouce é ter tido a sorte de pertencer a uma terra onde a natureza, o homem e Deus, ainda estão de mãos dadas"
Isabel Silvestre

terça-feira, 2 de maio de 2023

A minha faria hoje 111 anos. E faz-me tanta falta!

Carta de José Saramago a sua avó, em 1968. Um texto lindo, ternurento, tão doce.


 "Tens noventa anos. És velha, dolorida. Dizes-me que foste a mais bela rapariga do teu tempo — e eu acredito. Não sabes ler. Tens as mãos grossas e deformadas, os pés encortiçados. Carregaste à cabeça toneladas de restolho e lenha, albufeiras de água.

.
Viste nascer o sol todos os dias. De todo o pão que amassaste se faria um banquete universal. Criaste pessoas e gado, meteste os bácoros na tua própria cama quando o frio ameaçava gelá-los. Contaste-me histórias de aparições e lobisomens, velhas questões de família, um crime de morte. Trave da tua casa, lume da tua lareira — sete vezes engravidaste, sete vezes deste à luz.
.
Não sabes nada do mundo. Não entendes de política, nem de economia, nem de literatura, nem de filosofia, nem de religião. Herdaste umas centenas de palavras práticas, um vocabulário elementar. Com isto viveste e vais vivendo. És sensível às catástrofes e também aos casos de rua, aos casamentos de princesas e ao roubo dos coelhos da vizinha. Tens grandes ódios por motivos de que já perdeste lembrança, grandes dedicações que assentam em coisa nenhuma. Vives. Para ti, a palavra Vietname é apenas um som bárbaro que não condiz com o teu círculo de légua e meia de raio. Da fome sabes alguma coisa: já viste uma bandeira negra içada na torre da igreja.(Contaste-mo tu, ou terei sonhado que o contavas?)
.
Transportas contigo o teu pequeno casulo de interesses. E, no entanto, tens os olhos claros e és alegre. O teu riso é como um foguete de cores. Como tu, não vi rir ninguém. Estou diante de ti, e não entendo. Sou da tua carne e do teu sangue, mas não entendo. Vieste a este mundo e não curaste de saber o que é o mundo. Chegas ao fim da vida, e o mundo ainda é, para ti, o que era quando nasceste: uma interrogação, um mistério inacessível, uma coisa que não faz parte da tua herança: quinhentas palavras, um quintal a que em cinco minutos se dá a volta, uma casa de telha-vã e chão de barro. Aperto a tua mão calosa, passo a minha mão pela tua face enrugada e pelos teus cabelos brancos, partidos pelo peso dos carregos — e continuo a não entender. Foste bela, dizes, e bem vejo que és inteligente. Por que foi então que te roubaram o mundo? Quem to roubou? Mas disto talvez entenda eu, e dir-te-ia o como, o porquê e o quando se soubesse escolher das minhas inumeráveis palavras as que tu pudesses compreender. Já não vale a pena. O mundo continuará sem ti — e sem mim. Não teremos dito um ao outro o que mais importava. Não teremos, realmente? Eu não te terei dado, porque as minhas palavras não são as tuas, o mundo que te era devido. Fico com esta culpa de que me não acusas — e isso ainda é pior. Mas porquê, avó, por que te sentas tu na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para o céu de que nada sabes e por onde nunca viajarás, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e dizes, com a tranquila serenidade dos teus noventa anos e o fogo da tua adolescência nunca perdida: «O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer!»
.
É isto que eu não entendo — mas a culpa não é tua."


sexta-feira, 28 de abril de 2023

terça-feira, 25 de abril de 2023

Papoilices (pra memória futura)

 Eu: Estava um baú lindo ao pé de um contentor. Arrependo-me de não o ter aberto. Quem sabe o que teria lá dentro.....


Ela: Talvez um rato!

segunda-feira, 20 de março de 2023

domingo, 12 de março de 2023

Fé?

 Uma guerra aqui mesmo à nossa porta. Padres que têm a lata de dizer que não é muito católica a maneira como as pessoas estão a encarar a pouca vergonha com que outros padres nojentos molestam  crianças com o que nem sequer deviam pensar. Dizem uns (padres), que irão pro céu (os outros padres) se pedirem perdão e se outro padre que pode até ter feito o mesmo, lhe perdoar. Parece trocadilho, e na verdade até é, mas alem de não encontrar adjetivos para os classificar, tenho dificuldades a outros níveis no português. E não vou pro céu. Há lares (hã?), onde os desgraçados dos idosos, alem de terem saído do seu lar, são mal tratados, agredidos de várias maneiras, esquecidos, humilhados, ofendidos na sua dignidade e chulados depois de uma vida de trabalho. Há jogadores de futebol, que, escandalosamente, ganham num dia o que muitos não ganham numa vida de trabalho. Há pessoas, autodenominadas influenciadoras, a cagar postas de pescada nas redes sociais (?) e uma cambada de totós a sentirem-se influenciados com visualizações aos milhares, que vão encher de guito os parasitas dos influenciadores. Há desses influenciadores, que têm filhos e os mostram a nascer, a mudar a fralda, a entrar na pré, no colégio pago pelos totós, na universidade mais cara que esses meninos quiserem frequentar, paga pelos milhares seguidores dos papás, que, na verdade, seguem os papás pra ver os filhos, no ano sabático que, claro está podem fazer porque têm uma conta churuda à custa dos totós dos seguidores dos papás e até há o mais extraordinário: meninos (e meninas), que assim que nascem ganham logo uma conta em nome próprio, que os papás divulgam nas suas redes (!) para que, assim, ganhem eles e os rebentos. Há resmas de barbaridades a acontecer, é certo. Mas, apesar de tantos pesares, as Olaias já estão floridas, os prados encheram-se de flores amarelas, já cheira a primavera e, sobretudo isso, o nosso otimismo e fé nos outros e no futuro, continua em alta porque desgraças e poucas vergonhas sempre houve e haverá. E uma pessoa habitua-se! 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

domingo, 1 de janeiro de 2023

Antonio Mega Ferreira 1949 - 2022

 Esquece-te de mim, Amor,

das delícias que vivemos
na penumbra daquela casa,
Esquece-te.
Faz por esquecer
o momento em que chegámos,
assim como eu esqueço
que partiste,
mal chegámos,
para te esqueceres de mim,
esquecido já
de alguma vez
termos chegado.