segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

De Miguel Torga



De tanto olhar o sol,
queimei os olhos,
De tanto amar a vida enlouqueci.
Agora sou no mundo esta negrura.
À procura
Da luz e do juízo que perdi.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Poias de quem não sai do gabinete


Todos sabemos que mais de 90% dos incêndios têm origem criminosa. E também é verdade que é preciso aprendermos a gerir a nossa relação com a natureza e com os outros e aceitarmos que as boas práticas são para pessoas íntegras que queremos ser. Mas isto de a poda da minha glicínia ser considerada uma atividade florestal e que se eu quiser queimar o sobrante tenho de “avisar” uma carrada de gente, deixa-me com o cabelo em pé. Então e se no dia combinado estiver o vento viradinho para a roupa que a minha vizinha tem no estendal? E se chove? E se me aparece uma diarreia e eu não consigo sair do penico? E se o Presidente Marcelo tem alguma coisita pra fazer aqui por perto e eu tenho de lá ir tirar uma selfie ? E se na véspera estou fora e há uma greve e me cancelam o voo? E se fico com uma dor no lombo e não encontro um enfermeiro que me dê uma injeção por estarem todos de greve? E se enfio uma espinha na goela ao almoço e a fogueira está marcada para a tarde? E se me confundem com uma milionária qualquer e me raptam? Pois é!!! Imponderáveis acontecem!
Pode parecer ironia. E não é coincidência. É que é mesmo irónico!!
Os incêndios florestais, são um assunto sério demais para sobre eles se fazer ironia. Mas há tanto exagero e ignorância sobre o que é a vida no campo que parece que anda tudo a gozar com o Zé Povinho. Será que ainda ninguém se lembrou que a melhor forma de prevenção é A DIVULGAÇÃO DO CASTIGO DADO AOS INCENDIÁRIOS? Não há milhares de incêndios no Verão? Não há horas de imagens de incêndios em televisões e páginas inteiras com fotos chocantes nos jornais e na internet? Não é isso que os incendiários pretendem? Espectáculo? Então e a divulgação dos nomes dos incendiários e mandantes? Onde estão? O que me parece, é que nós, os “bem comportados” é que somos castigados pelos comportamentos criminosos dos outros.
Não seria mais eficaz e razoável, os municípios terem equipamento próprio para transformação dos resíduos florestais em biomassa, em vez de obrigarem os munícipes a fazerem fogueirinhas ridículas? E ainda lucravam com isso!
É pena, que saiam leis para o mundo rural, de cabecinhas brilhantes de legisladores que não levantam a peida da cadeira para saber o que é, efetivamente, necessário e viável.

 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

"Mensagem"

 
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O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp’rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte —
Os beijos merecidos da Verdade.
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Fernando Pessoa
 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Auschwitz

Fomos os quatro. Pais e filhas. Como se só assim fizesse sentido. Entrámos calados e expectantes. O eco dos nossos passos enlameados e frios, traziam o medo, a tristeza, a raiva, a dor, o sofrimento, os gritos, os gemidos e o silêncio de morte que aquelas paredes presenciaram. Vimos e ouvimos tudo, como zumbis alheados e perdidos, vergados a tão brutal realidade.
Saímos ainda mudos, com vergonha de termos tido a ousadia de invadir e presenciar a desgraça de tantos milhares (milhões) de vítimas.
E lá fomos, à nossa vidinha de pequenos burgueses (nem o sabíamos), mas com a certeza de que, para nós, Auschwitz jamais será, apenas, uma referência ao Holocausto.
Não foi uma experiencia turística. Foi uma experiencia emocional. Forte. Marcante!
 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Que ninguem do PAN veja isto...

Há muito que as formigas se apropriaram do meu terreno. Aos poucos, chegaram-se mais perto e já andavam na área circundante da casa. Mas desde que começou o inverno, foram mais longe. Isto é, mais perto! Não sei como, começaram a fazer-me "chaminés" na sala em redor da lareira. Querem aquecer-se e, para meu espanto, furaram as paredes (não estou a exagerar, juro), e fazem-me montinhos de terra em volta da lareira, como me fazem na rua. São escavadoras incansáveis, qualidade que eu até aprecio, mas estou a pensar seriamente em ter de arranjar um "exterminador implacável" para ver se me livro delas. Até aqui, tenho usado produtos bio, mas isto já lá não vai com boas intenções.
Estivemos uns dias fora, e quando chegamos o que foi que encontramos? Milhares delas em volta da lareira mas.....mortas. Deve ter sido do frio. Espero que tenham apanhado um susto, e as que voltaram atrás ou não chegaram a vir, simplesmente desistam.
Porque eu não desisto de as exterminar! 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Contabilidade


Há alturas na nossa vida, em que nos dá para fazer balanços. Balanços de vida (ou talvez seja só eu). Quando se chega à minha idade, já ganhamos muito, é certo. Já temos filhos, netos, amigos (ou não),casas, carros, coisas várias que foram formando o nosso ativo. Mas, em contrapartida, já perdemos muito. Perdemos a juventude, perdemos pessoas, perdemos animais (pra mim, verdadeiros amigos),perdemos coisas…Já temos um longo passivo.
Por estes dias, tenho andado perto da casa que era dos meus avós maternos. Uma rua antes cheia de vida. Muitas pessoas, alegria. Agora, restam dois velhos. Os meus tios. E eu nem sei como é que eles ficaram assim velhos de repente. Ainda ontem eram tão novos e o Carlitos tinha acabado de nascer (e agora tem mais de cinquenta anos). Por ali andam, coxos e tristes. Como se tivessem de continuar guardiões daquele pedaço de terra que começa a esboroar-se. Da casa dos meus avós, lembro com mais saudade a casa do forno. Era a “sala de visitas da casa”. Sempre cheia. De vizinhos, de netos, de amigos, de galinhas, e outros animais (saudades do Nerú e do Marquês). Era pequena. Mas cabia sempre mais um. Lá dentro ou do lado de fora. Parece que estou a ver a minha avó sentada perto da lareira, mãos no regaço, lenço na cabeça e sempre a “tomar conta” da cafeteira do café que estava em cima da “fornalha”, a candeia pendurada na parede, a pequena mesa com restos de tinta azul- turquesa, a cadeira pequena do meu avô, o armário verde, a prateleira (linda) de ferro forjado e madeira já sem cor, a peneira pendurada atrás da porta de zinco ondulado, o saco de farinha para a cozedura seguinte e a cantareira com dois cântaros que a minha avó ia encher à fonte das Frazoas e transportava até casa com uma destreza de modelo em passerelle. A fonte, que naquele tempo tinha fartura de água, secou por lhe arranjarem “vizinhos” eucaliptos. Nem uma gota. E a porta de zinco da casa do forno da minha avó está há muitos anos fechada. Já tive vontade abri-la. Mas o que ela agora guarda, já não são as minhas lembranças. Essas, guardo-as eu.
E pensando melhor, até o que perdemos, e porque continua na nossa lembrança, continua nosso. Só deixará de o ser, quando nós próprios formos apenas uma lembrança para os que ficarem. Ou seja, o saldo é sempre positivo.

 

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Querem ver....


Uma pessoa põe-se a ver as notícias e fica com vontade de ir até outro planeta. Trump, cada vez mais ele mesmo. Maduro, a formar exércitos populares ( talvez com o intuito de exterminar de vez os pobres Venezuelanos). Bolsonaro, em “ação” como presidente. Le Pen cada vez mais perto do Eliseu.  Ivo Rosa, a julgar Sócrates. A China a comprar carne de porcos portugueses (tanto chiqueiro que se adivinha). A polónia a vender-nos vacas podres. Uma tempestade com o meu nome a aproximar-se…irra!
Ou então…querem ver que eu adormeci a ouvir o vento e a chuva e isto é só um sonho?
Pelo sim pelo não, vou mas é ler “A amante do Governador” de José Rodrigues dos Santos. Vai-se a ver, quando eu o acabar de ler, já o mundo se recompôs!