Os lisboetas – ou alfacinhas, como gostam que se lhes chame
– sempre pensaram que tudo o que não é
Lisboa é apenas paisagem. Agora, não pra todos mas ainda para alguns, somos
ignorantes, inferiores, saloios (no pior sentido que a palavra possa ter) e que
eles sim, são o oposto e muito mais. Há muitos anos, o Sr. P., por razões do coração,
veio “esconder-se” aqui na aldeia. Depressa se adaptou, fez amigos, criou
afetos. Quando amigos ou familiares o visitavam, não entendiam como o amor por
uma mulher o tinha afastado da vida mundana, onde podia ter quantas quisesse e
do mar, onde tanto gostava de pescar, para vir enfiar-se no fim do mundo
rodeado de campónios. Farto de tanto os ouvir, o Sr. P. pensou numa maneira de
lhes mostrar que estavam enganados e que eles sim, eram ignorantes. Esperou pela melhor ocasião e quando os cá
apanhou não se cansou de enumerar as virtudes de morar numa aldeia. Segundo
ele, esta era tão boa que até no mato se podia pescar. Admirados e ao mesmo
tempo maravilhados, logo eles quiseram experimentar tão curiosa pesca.
Solicito, o Sr. P. emprestou-lhes canas e isco, colocou-os bem atrás de um
carrasco e avisou-os que estivessem com atenção porque não tardaria que o peixe
começasse a picar. Que ficassem ali bem sentadinhos enquanto ele ia a casa
buscar um grande cabaz para guardar a pescaria. O resto, imagina-se.
Um dia, ainda vou ter a coragem do Sr. P.!
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