terça-feira, 25 de setembro de 2018

A coragem do Sr. P


Os lisboetas – ou alfacinhas, como gostam que se lhes chame – sempre  pensaram que tudo o que não é Lisboa é apenas paisagem. Agora, não pra todos mas ainda para alguns, somos ignorantes, inferiores, saloios (no pior sentido que a palavra possa ter) e que eles sim, são o oposto e muito mais. Há muitos anos, o Sr. P., por razões do coração, veio “esconder-se” aqui na aldeia. Depressa se adaptou, fez amigos, criou afetos. Quando amigos ou familiares o visitavam, não entendiam como o amor por uma mulher o tinha afastado da vida mundana, onde podia ter quantas quisesse e do mar, onde tanto gostava de pescar, para vir enfiar-se no fim do mundo rodeado de campónios. Farto de tanto os ouvir, o Sr. P. pensou numa maneira de lhes mostrar que estavam enganados e que eles sim, eram ignorantes.  Esperou pela melhor ocasião e quando os cá apanhou não se cansou de enumerar as virtudes de morar numa aldeia. Segundo ele, esta era tão boa que até no mato se podia pescar. Admirados e ao mesmo tempo maravilhados, logo eles quiseram experimentar tão curiosa pesca. Solicito, o Sr. P. emprestou-lhes canas e isco, colocou-os bem atrás de um carrasco e avisou-os que estivessem com atenção porque não tardaria que o peixe começasse a picar. Que ficassem ali bem sentadinhos enquanto ele ia a casa buscar um grande cabaz para guardar a pescaria. O resto, imagina-se.

Um dia, ainda vou ter a coragem do Sr. P.!

Sem comentários:

Enviar um comentário