domingo, 30 de setembro de 2018

Antagonismos

Mas se uns chegavam e se sentiam em casa nesta aldeia, outros havia que não se ambientavam e sempre se sentiam forasteiros.
Era o caso de um casal com um rancho de filhos que veio nos anos sessenta de uma remota aldeia beirã e por aqui se instalou. Quando chegaram sentiram que tinham encontrado um outro Portugal. Se para a mãe e os filhos, haver casa de banho, as mulheres usarem o cabelo curto sem lenço e outras "modernices" era sinal de progresso, essas mesmas coisas eram para o pai o pior que por aqui encontraram. E muitas vezes dizia à mulher "Mas que raio de terra esta. Olha onde viemos parar! Que gente estranha esta que até caga em casa! Porcos, é o que é!"
Uns anos depois, morreu  numa grande cheia que por aqui houve. Só nunca se soube se afogado, ou se de medo de se ver rodeado de água. É que alem de não cagar em casa, também não tomava banho.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

A coragem do Sr. P


Os lisboetas – ou alfacinhas, como gostam que se lhes chame – sempre  pensaram que tudo o que não é Lisboa é apenas paisagem. Agora, não pra todos mas ainda para alguns, somos ignorantes, inferiores, saloios (no pior sentido que a palavra possa ter) e que eles sim, são o oposto e muito mais. Há muitos anos, o Sr. P., por razões do coração, veio “esconder-se” aqui na aldeia. Depressa se adaptou, fez amigos, criou afetos. Quando amigos ou familiares o visitavam, não entendiam como o amor por uma mulher o tinha afastado da vida mundana, onde podia ter quantas quisesse e do mar, onde tanto gostava de pescar, para vir enfiar-se no fim do mundo rodeado de campónios. Farto de tanto os ouvir, o Sr. P. pensou numa maneira de lhes mostrar que estavam enganados e que eles sim, eram ignorantes.  Esperou pela melhor ocasião e quando os cá apanhou não se cansou de enumerar as virtudes de morar numa aldeia. Segundo ele, esta era tão boa que até no mato se podia pescar. Admirados e ao mesmo tempo maravilhados, logo eles quiseram experimentar tão curiosa pesca. Solicito, o Sr. P. emprestou-lhes canas e isco, colocou-os bem atrás de um carrasco e avisou-os que estivessem com atenção porque não tardaria que o peixe começasse a picar. Que ficassem ali bem sentadinhos enquanto ele ia a casa buscar um grande cabaz para guardar a pescaria. O resto, imagina-se.

Um dia, ainda vou ter a coragem do Sr. P.!

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Outono


O outono instalou-se à laia de verão. Mas não há volta a dar. Acabaram-se as longas tardes de verão, as férias de verão, e muitos dos amores de verão. Pra quem gosta, soube a pouco, a irreal, a sonho, de tão efémero. Pra mim, que não gosto, está quase a terminar a chatice. Quem mora na cidade, não dá conta porque o calor continua e ainda se pode dar uma escapadinha até à praia, mas no campo, apesar do calor, os ciclos da natureza são mais percetíveis. Por aqui, já cheira a vindimas, a mosto e a engaço, a maçãs maduras e a marmelada acabada de fazer. Os figos e as nozes estão a secar para gaudio das gatas cá de casa. Daqui a pouco já começam a aparecer as tangerinas, as laranjas, as romãs e os diospiros. E não há- de faltar muito, para que o feno seco dê lugar a erva verde. E que cheire a lareira, a chá quente e a aconchego. O outono não é apenas o cair da folha, como se fosse um fim. É  também um principio, uma regeneração. E é o fim da minha “meia vida” e o principio da minha vida em pleno. Até ao próximo verão.

 

"Pancrepe" de beterraba com maçã e canela

De lamber o beiço!

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

(quase) Fim de verão

Os dias ainda estão quentes mas as manhãs já arrefecem bastante. Já cheira a fim de verão. A recomeço. A férias!
Sim, férias. Quando os outros já foram, vieram e estão a pensar nas férias do ano que vem, esta menina lá vai. Gosto disto!

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Sorrisos "de retrato"


Há pessoas que se riem com a boca toda, com os olhos e com as amígdalas. Que se riem de tudo e de ninguém. Que dão sonoras gargalhadas sem se importarem se é ou não elegante. Que não querem saber se rir é uma terapia, mas que sabem o bem que faz uma gargalhada.
E depois há aquelas que não riem porque ainda acham que muito riso é pouco ciso, que têm medo de ficar com rugas de expressão, que apenas sorriem se lhes parecer conveniente e que não riem para ninguém mas riem de todos.
Há também os intelectuais que não se riem porque estão muito ocupados com coisas sérias e pensamentos profundos, os distraídos que riem sozinhos sem darem conta, os totós que riem sem saber porquê e os cínicos que fazem apenas meio riso.
Que me desculpem os que, por razões várias não têm motivos para rir e os que, infelizmente, apenas têm vontade de chorar.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A gigantesca arte menor

Quando há uns anos estive em Blanes-Catalunha, na altura considerada o "santuário" da arte urbana em Espanha e vi o respeito que por lá se tinha por esta arte, intuí que, mais cedo ou mais tarde , aconteceria o mesmo por cá. E, efetivamente, já há artistas portugueses muito respeitados tanto cá como lá fora e rotas especificas para a visualização dos seus trabalhos. Já sem vergonha, muitos municípios "deixam" que os artistas mostrem a sua arte.

Aqui, em Alcobaça.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A CIDADE DAS FLORES de Augusto Abelaira

Os livros têm essa particularidade maravilhosa de serem sempre novos para quem os lê pela primeira vez. Este, é um livro editado antes da revolução ainda sob o jugo Salazarista e que só agora me chegou às mãos. E é a prova de que a censura era feia, porca e......burra!
Um grande livro.
A ler.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

É admirável...

... a quantidade de poetas e poetisas que pululam (ou poluem?) por aí! (leia-se facebook).
É um desfilar de infelicidades, desgostos, agruras, máguas, desgraças, recalcamentos, angustias, dores de cotovelo, unhas encravadas, partos difíceis,.... de encher alguidares de lágrimas.
Bibápoesia, carago!!!!!

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Resiliência

Nasceu entre o alcatrão da estrada e o cimento da valeta.
E, apesar de nunca ter levado uma gota de água e ser alvo da primeira mijadela de Black Mantorras todas as manhãs, está assim lindo bem verde e agora já com fruta madura.
Assim estivessem os da minha horta!

sábado, 8 de setembro de 2018

Relíquias

Este é um antigo saco de arroz. Depois de uma breve pesquisa, descobri que esta companhia deixou de existir em 1955. Isso quer dizer, que tem pelo menos 63 anos (podendo ter muitos mais). Já tem uns buracos, que eu tapei com uns acessórios, mas ainda é um saco. Foi-me oferecido pela minha avó há mais de trinta anos e tenho-o guardado com muito carinho. Agora, vou guarda-lo ainda com mais cuidado, já que é uma verdadeira raridade.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

(F)estivais

Se não fossem os festivais de verão, muitos portugueses nem saberiam onde ficavam (ou sequer que existiam) Vilar de Mouros, Paredes de Coura, Crato...
Ainda assim, talvez ainda haja quem não saiba, que fora da época dos festivais também vale a pena lá ir.
Já eu, que sou do contra, só começo a "festivalar" lá para o fim do verão.
Vai daí, já tenho quase um pé em Vilar de Mouros e outro em Paredes de Coura.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Donai

Interior da igreja

Com visita gentilmente guiada pela M. Quando ela abriu a porta, entramos as duas mais o enorme orgulho que ela tem pela "sua" igreja. Por vezes, é nos locais mais inesperados que encontramos os melhores tesouros. Como este.
E como a M.

sábado, 1 de setembro de 2018

Com Alice, no País das Maravilhas

- Vóó!!!!! Vamos brincar de tu bebé e eu a mãe.
Já no quarto das estrelas, às escuras, eu, já bebé a fingir que mamava numa chucha imaginária, ela, mãe, a tentar adormecer-me com mil beijos, abraços, mimos e festinhas. Eu, quase a dormir mas a querer prolongar aquele momento, ela, sem conseguir, adormeceu ao fim de pouco tempo. As duas debaixo de um céu estrelado.
Levantei-me, cabelo desgrenhado de tanto" cafoné ", óculos lambuzados de tanto beijo, sorriso de orelha a orelha, numa cara de parva deliciosamente ridícula.
Oh coisa mai boa!!!!