quinta-feira, 1 de março de 2018

Paralelismos

Quando eu era criança, a brincadeira preferida dos meninos por aqui (os que tinham o direito de brincar, porque os outros tinham de trabalhar), era fingirem que eram cowboys. Muito por conta dos filmes de Trinity que íamos ver à sociedade recreativa, no ecrã  de lençol esticado entre duas janelas, sentados em cadeiras de pau. Não havia classificação legal e toda a gente via os mesmos filmes. Os filhos, os pais e os avós. Em casa, os miúdos faziam pistolas de madeira, imitavamo som das balas, punham a estrela de xerife e "morriam" sempre os maus às mãos dos bons. Eu, se queria entrar na brincadeira, tinha de apanhar uma bala perdida e ficar estatelada no chão até se lembrarem de me mandar levantar. Era mais nova e era para me despacharem.
Hoje, no país de Trinity, brinca-se com pistolas a sério a mata-se a sério. E os alvos são muitas vezes crianças. Senti revolta quando vi aquela menina, na sua mais pura ingenuidade a pedir ajuda ao seu presidente para que proíba as pessoas de usarem armas. O mesmo presidente que quer oferecer armas aos professores. O mesmo presidente que tem o dedo no gatilho.
No meio de toda a tragédia, fiquei encantada com o à vontade daquela menina, a dizer junto dos pais, que não conseguia ir para a escola porque tinha visto morrer muitos dos seus amigos e... o seu amor. O menino a quem tinha jurado amor eterno e com quem tinha combinado casar quando fossem grandes.
Esta menina tem sete anos. Quando eu tinha sete anos, se tivesse o atrevimento de dizer uma coisa destas em frente aos meus pais, levava com uma super nanny de cinco dedos (era o que havia na altura), e caia logo pro lado. E era obrigada a ir à escola. Quem mandava era Salazar. E eles.
Paralelismos à parte, continua a ser difícil ser criança.

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