sábado, 24 de março de 2018

Porque todos os dias são de poesia

 
 
"Estarei quieto, feito mártir, rochedo,
Ó mar de lágrimas tuas vertidas,
Nas vagas os ventos mágoas trazidas,
Onde estremeço... Porém, livre do medo.
Que Amor disfere frases puras, sentidas,
Antes dor, a revolta em ti vem cedo?
Esfolas-te somente tu no rochedo
E tuas lágrimas em mim embutidas.
Quantos ventos invocas, vagas de fúria,
No fim sorrindo quando da minha penúria,
De vontade hercúlea de resistir;
Tombando sempre se vive livremente,
Se não deixar na vida nada pendente,
Antes a Morte que o Real porvir. "

António Codeço

quinta-feira, 22 de março de 2018

Confusão cromática

Sou pessoa de muitos, bons e muito coloridos sonhos.
Muitas vezes dou por mim a descobrir muito do meu estado de espirito depois de um sonho.
Mas o ultimo foi estranho. O céu era branco, as plantas tinham folhas coloridas e flores verdes, as bananas eram azuis e eu era transparente e tinha olhos amarelos.
Nem sei o que pensar. Daltonismo noturno, na melhor da hipóteses, talvez.

quarta-feira, 21 de março de 2018

A poesia...

.... é como a matemática. Faz parte da nossa vida e manifesta-se das mais variadas formas.


Versos

"Versos! Versos! Sei lá o que são versos...
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz, cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma...

Versos!... Sei lá! Um verso é o teu olhar,
Um verso é o teu sorriso e os de Dante
Eram o teu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!

Meus versos!... Sei eu lá também que são...
Sei lá! Sei lá!... Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez...

Versos! Versos! Sei lá o que são versos...
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês... "

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas"

segunda-feira, 19 de março de 2018

quinta-feira, 15 de março de 2018

Janela

As nossas crianças vão, inevitavelmente, ter o futuro marcado pela tecnologia. Vão ter de competir com a inteligência artificial e vão, eles mesmos, ter de ser máquinas competitivas.
Mas cabe aos pais, professores e comunidade em geral, impedir que se esqueçam que o que distingue as pessoas das máquinas, são os sentimentos. E que o que desperta em nós os melhores sentimentos são as coisas mais simples. Que o céu ainda é azul. Que o som de um violino nos pode levantar do chão. Que um abraço, pode ser o melhor que temos pra dar. Ou pra receber. Que o calor humano, tem mais energia que outra qualquer energia artificial. Que as flores silvestres são as mais bonitas e inimitáveis. Que um livro nos pode levar a uma viagem até ao fim do mundo ou até ao fundo de nós próprios. Que um quadro nos pode deixar de lágrimas nos olhos. Pelos melhores motivos. Que um simples bailado nos pode levar aos nossos melhores sonhos. Enfim, que somos corpo e alma.
O pintor Firmino Rodrigues, tem levado a cabo alguns eventos na tentativa de cumprir com esta obrigação que todos temos. E, inspirado por um poema de Ruy Belo - O valor do vento - pintou uma das suas janelas dO LUGAR DAS ARTES e ofereceu-a aos meninos e meninas do Centro Escolar com o nome do poeta.
Que esta seja para estas crianças, uma janela de entrada para o mundo maravilhoso da arte e da literatura.
 
Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira-mar em agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto
Ruy Belo

quarta-feira, 14 de março de 2018

Tem um sonho chamado Leonor e é a "tia Dora" das minhas netas

Tem mais de quarenta anos e desde muito cedo que tem o sonho de ser mãe. Com várias relações falhadas, tem-lhe sido adiado esse sonho.
Com o passar do tempo, sem uma relação, mas sem esmorecer o desejo parental, começou a pensar em recorrer a um banco de esperma. Mas a lei não lhe tem permitido por ser solteira. Com a lei finalmente aprovada, falta-lhe o dinheiro. Mas não é isso que a demove. E continua a sonhar.
Teve coragem de se expor num programa de televisão, mostrando, sem vergonha, que os sonhos são para perseguir. Até ao fim. Por isso, utilizo o seu nome por extenso. E porque a "minha Dora" e todas as Doras, têm o direito de, finalmente, ser mães solteiras de filhos desejados.
Quando o sonho da "minha Dora" se concretizar, vou ser eu a orgulhosa "tia".
E mal posso esperar. Coragem, Dorita!


sexta-feira, 9 de março de 2018

Agora com chuva então.........

A intimidade desta vida de aldeia é um espectáculo ao mesmo tempo repugnante e maravilhoso. Estrume da cabeça aos pés. Entre o porco e o dono não há destrinça. Mas, ao cabo, esta animalidade toda, de tão natural, acaba por ser pura e limpa como a bosta de boi.
Diário (1936)  Miguel Torga

quinta-feira, 8 de março de 2018

Patchwork felino

A dona a querer "artesanar" e ela a portar-se mal.
Ai ai ai! Já não vai jantar ao restaurante.

quarta-feira, 7 de março de 2018

Eu e ele não nos largamos

Nos últimos dias, temos sido inseparáveis.
No sofá ou na cama, temos viajado por lugares que ambos bem conhecemos, numa viagem atribulada que está quase no fim.

terça-feira, 6 de março de 2018

Parecendo que não, é difícil!

Ninguem gosta mais dos chamados animais de companhia do que eu.
Também é verdade que, desde que bem comportados, nada me incomodam se estiver a comer num restaurante. Mas também é verdade que, os outros não têm de pensar como eu. Logo, não têm de aturar os meus cães (e se ia ser lindo!!!), só porque a lei o permite (?).
Vai daí, é muito difícil escolher se estou contra ou a favor.
E ainda tenho uma duvida, que faz toda a diferença. É que não sei se a questão é só em relação à entrada dos bichos nos restaurantes, ou se é também para decidir se os lulus usam a baixela do estabelecimento ou se levam aqueles penicos de plástico que usam em casa.
Confesso que, o que mais me incomoda são os bebés a chorar enquanto eu degusto a minha refeição. E não é por isso que quero uma lei que proíba os bebés de entrar em restaurantes. E eu adoro bebés. Ca ganda complicação.
Deixem-se de parvoíces e legislem coisas com "trimbelhos".
Faxavor!

segunda-feira, 5 de março de 2018

Mãeziçes

Quando se tem uma filha por uns dias num pais que tem tanto de bonito como de explosivo, fica-se como que com a respiração em suspenso. Mesmo que seja num trabalho que a diverte e realiza. Mesmo que mostremos tranquilidade e até se lhe façam sugestões por também já la termos estado sem pensar em perigos.Depois ela volta  e tudo fica calmo e tranquilo. Porque é assim que tem de ser.

quinta-feira, 1 de março de 2018

Paralelismos

Quando eu era criança, a brincadeira preferida dos meninos por aqui (os que tinham o direito de brincar, porque os outros tinham de trabalhar), era fingirem que eram cowboys. Muito por conta dos filmes de Trinity que íamos ver à sociedade recreativa, no ecrã  de lençol esticado entre duas janelas, sentados em cadeiras de pau. Não havia classificação legal e toda a gente via os mesmos filmes. Os filhos, os pais e os avós. Em casa, os miúdos faziam pistolas de madeira, imitavamo som das balas, punham a estrela de xerife e "morriam" sempre os maus às mãos dos bons. Eu, se queria entrar na brincadeira, tinha de apanhar uma bala perdida e ficar estatelada no chão até se lembrarem de me mandar levantar. Era mais nova e era para me despacharem.
Hoje, no país de Trinity, brinca-se com pistolas a sério a mata-se a sério. E os alvos são muitas vezes crianças. Senti revolta quando vi aquela menina, na sua mais pura ingenuidade a pedir ajuda ao seu presidente para que proíba as pessoas de usarem armas. O mesmo presidente que quer oferecer armas aos professores. O mesmo presidente que tem o dedo no gatilho.
No meio de toda a tragédia, fiquei encantada com o à vontade daquela menina, a dizer junto dos pais, que não conseguia ir para a escola porque tinha visto morrer muitos dos seus amigos e... o seu amor. O menino a quem tinha jurado amor eterno e com quem tinha combinado casar quando fossem grandes.
Esta menina tem sete anos. Quando eu tinha sete anos, se tivesse o atrevimento de dizer uma coisa destas em frente aos meus pais, levava com uma super nanny de cinco dedos (era o que havia na altura), e caia logo pro lado. E era obrigada a ir à escola. Quem mandava era Salazar. E eles.
Paralelismos à parte, continua a ser difícil ser criança.