quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Memórias

Há lugares que tomamos como nossos porque lá nos sentimos "em casa", porque gostamos deles, das pessoas que lá vivem, da luz que emanam, dos cheiros, dos monumentos, da história, dos sabores, das cores, dos "nadas" que por insignificantes que sejam, para nós são tanto que não só sentimos que nos pertencem, como nos sentimos também pertença deles.
Quantas vezes, dou por mim a dizer o "meu Alentejo", o "meu Talasnal", a" minha Sortelha" e tantos outros meus e minhas que me são queridos. Talvez o que nos prenda a um lugar, sejam as nossas memórias. E quando voltamos, gostamos de os encontrar tal e qual. Uma pedra, a sombra de uma árvore, uma porta sem fechadura, um museu, um vaso na janela, um resto de um castelo, um restaurante tosco, são uma referencia, e gostamos que assim continuem porque foi assim que aquele lugar nos cativou. Pertencem à nossa memória. Se voltarmos e encontrarmos diferenças significativas, sentimos que nos roubaram qualquer coisa.
 E sentimos isto, em relação a espaços de outros, onde vamos apenas de vez em quando. Ou onde estivemos apenas uma vez e nos ficaram entranhados. Quando falamos da nossa casa, o nosso lar, então faz parte de nós, como a nossa pele. "São" a nossa memória.
Os três canais generalistas, uniram-se ontem, numa ação de solidariedade para com as vitimas dos incêndios. E, do pouco que vi, verifiquei que algumas casas já estão em reconstrução ou a nascer de raiz. E perguntei-me o que sentirão aquelas pessoas, quando voltarem para os "seus espaços".
As casas  deles morreram. E não só as casas. As árvores, os animais e tudo o que era vivo e formava a "casa". Ficaram apenas com as memórias. Essas, não arderam. Mas ficaram órfãs.
Vão habitar um espaço novo mas estranho. E criar novas memórias.
É assim.
Tem de ser assim.


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