Os meus cães eram abandonados até eu ficar com eles, e por isso, andavam por aqui a vaguear, a fujir dos carros, a dormir à chuva, a levar porrada e a comer só o que conseguiam roubar.
Quando eles e eu decidimos que eu seria a sua dona tudo mudou.
Passaram a ter cama quente, mimo, comida, um lugar a que rapidamente se habituaram a sentir como seu, um passeio todos os dias, mas... passaram a ficar presos o resto do dia.
É o preço que pagam por tudo o resto que têm.
Se andassem soltos, certamente já teriam morrido. debaixo de um carro ou com veneno no bucho.
São extremamente meigos e adoram-me, mas se pudessem escolher... talvez preferissem andar à vontade mesmo que isso lhes custasse a vida.
E lembro-me do meu amigo J.
O J. viveu sempre como quis. Sem regras nem amarras mas ao sabor das suas vontades.
Morreu há uns anos, antes dos cinquenta, vítima do modo desregrado em que vivia.
Nunca deixou de fumar até conseguir segurar um cigarro e mesmo já bi-amputado dos membros inferiores, e no hospital, encontrava sempre maneira de fumar um cigarrito.
No funeral, disse-me a filha com um sorriso de compreensão "morreu novo mas ainda viveu umas coisas, não achas?".
E eu concordei.
Morrer novo foi o preço que ele teve coragem de pagar para ser ele mesmo e fazer o que lhe dava na gana.
É assim...tudo na vida tem um preço!
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