sexta-feira, 29 de agosto de 2025

sábado, 23 de agosto de 2025

O retrato da morte

 Há uns dias, enchi-me de coragem e abri outra vez a porta (de parte) da casa dos meus avós maternos. O que resta dela. Empurrei a porta, mas o telhado caiu e o entulho dificulta a tarefa. Ainda assim, empurrei com força e, mesmo sem entrar, vi toda a "casa do forno" da minha avó. Por instantes, vi o lavatório de ferro, a bacia verde e o sabão azul e branco. Logo ao lado, a vassoura de urze ou de milho painço. Atrás da porta, o saco com a farinha que o Laronha tinha trazido à quarta feita. Logo ao lado, a Cantareira com os cântaros de água das Frazoas que a minha avó, qual equilibrista, tinha trazido à cabeça por cerca de um quilómetro. Ao lado da cantareira, a arca pequena do pão pintada de verde e que servia de banco. Por cima da arca, pendurada ne parede, uma prateleira também pintada de verde com uns suportes em ferro que eu não me cansava de admirar. Achava-os lindos. Em frende à porta, o armário, de côr indefinida, onde entre outras coisas, descansava a terrina branca, sem tampa, onde a avó tinha sempre o fermento para a próxima cozedura. E ao lado, a pequena mesa, baixinha, com duas cadeiras igualmente pequenas e baixas como se fossem mobília de anões. Mas em destaque, imponente e sempre utilitária, a lareira com a fornalha. Com as brasas sempre acesas, de uma refeição à outra. Bem aconchegada, sempre ali a jeito, a cafeteira do café. Na parede, a candeia. E pendurada no suporte de madeira centenária, a saca de serapilheira, dobrada em forma de capuz que o avô usava a substituir o chapéu de chuva. A avó não se sentava à mesa, comia sentada na lareira, encostada ao suporte de madeira. O Avô comia depressa, sem conversas, com pressa de ir pra cama descansar da dura azáfama, e eu, já arrependida de não ter ido pra casa, ficava ali, a vê-los adormecer sentados. As telhas negras do fumo entristeciam-me. Tudo ali me entristecia. Não era feliz aqui. Mas é parte da minha história. Das minhas pessoas. De mim. E agora, sem telhado, tudo despido de coisas e de vida, aquele espaço é, apenas, o retrato da morte.

Armei-me em forte e ainda fui tentar abrir o portão do pátio. Consegui e lá estava ele, tão morto como o resto. O curral da burra, tem a porta "fechada" por mato. O galinheiro, é agora um gatil de felinos desgraçados sem outro teto e que fugiram, admirados de me verem entrar. Os seixos, antes tapados com bosta das galinhas, estão agora à mostra, entre o mato, como ossos descarnados da minha infância. 

O resto da casa está igualmente morto, mas fechado à chave.

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

" Oh figas diabo"

 Era assim que a minha avó desabafava perante uma preocupação ou um problema grave. Apetece-me dizer o mesmo, perante o inferno que se tem vivido por este país fora. Inacreditável!

terça-feira, 19 de agosto de 2025

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Depois de uma breve soneca....

 ..... acordei a ouvir uma voz que me fez viajar uns anos pra trás. Ao tempo, ainda que não muito longínquo, em que o meu pai já reformado, não perdia pitada da volta a Portugal em bicicleta. A voz do Marco Chagas, soa-me a verão, a comentários do meu pai, que na juventude foi ciclista amador e nunca perdeu a paixão pelos pedais. Com mais de oitenta, ainda pedalava na sua bicicleta de corrida que ele comprou quando, finalmente, pôde comprar uma bicicleta a sério. Por tudo isto e tanto mais, soube-me bem acordar assim.

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Terrantez/a

Terrantez, é uma casta introduzida em Portugal há vários séculos, que tem facilidade de adaptação aos solos, clima e orografia. Cresci a ouvir os "mais antigos" a chamar terrantezas às pessoas valentes, que não desistem por dá cá aquela palha, que são resilientes. Analogia à dita casta?

A D. é uma terranteza! E nem bebe vinho!


segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Sonhos

 Tínhamos um terreno com uma casa em ruínas e queríamos vende-la. A nós dava despesa e trabalho, as filhas têm a vida noutros sítios e não fazia sentido termos aquilo ali só porque sim. Foi herança, sim, mas não havia apego, não me dizia nada. Assim que pusemos à venda, eu sempre disse que se conseguíssemos vender nunca mais lá ia. E conseguimos! Há dois ou três anos, inesperadamente, apareceram interessados. E com tanto interesse, que depois da escritura, a senhora foi ao carro e apareceu-me com uma planta linda e uma caixa de bombons. Achei inusitado mas o mais surpreendente foi quando a sra. olhou pra mim e disse: "D. Helena, obrigada por nos dar a possibilidade de adquirirmos a casinha dos nossos sonhos". Quê??????? Aquela casa velha? De sonho??? Dois hectares de terreno? Fiquei abesbilica!!!  Bem, passados estes anos, tenho a dizer que nunca fui tantas vezes aquele sitio, que a casa está em reconstrução e que de cada vez que lá vamos, já que ficamos amigos dos novos proprietários, eu sinto que aquele sitio sempre foi deles e que apenas por acaso tinha sido minha. Ajudamos na logística que podemos, já que o casal mora fora de Portugal e há sempre alguma coisa a resolver, receber, enviar, fazer. Os sonhos têm medidas imensuráveis. Ainda bem. Que o deles os faça muito felizes. 

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

1º de Agosto, 1º de Inverno

 Era assim que se dizia há uns anos. Agora, vá-se lá saber o que aí vem. Cheira-me que não é inverno!