A minha avó materna era uma mulher rude, pouco dada à boa disposição e ao otimismo (lá tinha as suas razões). Não gostava de nada que lhe cheirasse a progresso e, como todos que passaram fome, não admitia restos no prato nem migalhas às galinhas. Achava sempre que andávamos a esbanjar sem necessidade e que, se assim continuássemos, mais cedo se acabava a fartura e voltava a fome. Eu, como criança, não gostava mesmo nada daquela retórica e queria era ter televisão, lâmpadas que substituíssem os candeeiros a petróleo e as lanternas a abanar quando nos deslocávamos de noite. Mais tarde, tambem eu comecei a achar que não era preciso tanto progresso, tanta tralha a "ajudar" na cozinha e no resto da casa e da vida, tanta forma de comunicar a tornar-nos cada vez mais solitários, tanta coisa inteligente. Ontem, tive uma dualidade de sentimentos. Por um lado, foi engraçado ver vizinhos a conversar na rua, solidários, a ouvir rádio a pilhas à vez pra elas durarem mais, sem tele móveis na mão, e na agradável perspectiva de deitar cedo. Por outro lado, apetecia-me fechar-me em casa a ver (sozinha) a informação na televisão ou na internet, poder ligar a quem me apetecesse, ver as minhas séries preferidas e, se assim o entendesse, ler até ganhar sono bem iluminada com uma potente lâmpada (que isto de se ser idosa tráz alguma vesguice). Hoje, gostei desta normalidade!
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