sábado, 3 de dezembro de 2022

Cachopinha

 Ontem, quando já tinha passado pelo cemitério, voltei pra trás e fui "visitar" os meus mortos. Faço-o muitas vezes. Porque gosto. Porque me faz bem. Temos por garantido, apesar de não o ser, que os nossos avós e os nossos pais morrerão antes de nós. E aceitamos. Já visitar a campa de um amigo, é uma coisa estranha. Quando cheguei à do T e a vi rodeada de musgo como se sempre ali estivesse com ele lá debaixo, foi mesmo uma coisa estranha. No Natal, era garantido que ele vinha sempre cá casa. Batia com força na porta e entrava de rompante logo a dizer que não se podia demorar. E não demorava. Quando saía dizia-me " bom ano pra ti cachopinha". Este Natal ninguem me vai chamar cachopinha porque ele está num sitio onde parece que sempre pertenceu. A terra e as pedras, castanhas, como os fatos que ele usava, estão pra sempre a guardá-lo. Numa estranha quietude. Ao T que andava sempre à pressa.

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