domingo, 29 de maio de 2022

Surpresas

 Ando muito arredada deste estaminé! Constato isso quando vejo que o ultimo post foi há vários dias. Mas fim de semana é fim de semana e hoje cá estou. Até porque, ai ai ai, este teve uma novidade! Não ganhei no euromilhões, não. Mas ver Isabel Jonet de cabelinho lavado foi uma imagem verdadeiramente inesquecivel. Uma coisa assim airosa, leve, agradável. Gostei! 

segunda-feira, 23 de maio de 2022

"Em dia de Domingo"

"Árvores, pássaros que lá poisam, cantos da casa, arroz de tomate, palavras turvas. Há pequenas coisas que são transformadas pelos poetas que olham para elas e as fixam em poemas."



 

sábado, 7 de maio de 2022

Não era um zoo. Era uma arca de Noé

 Eram primos do meu pai, o Leão, o Urso, o Matuto e a Doninha. Mas foram os primos mais presentes na minha infância. Pobres, casa pobre, dificuldades mil que a tia N. fazia o que podia para superar, trabalhando em "senhoras" que a exploravam até ao tutano. Já para o tio M., era indiferente se os filhos tinham o básico, já que para ele, o mais importante era ter para a sua "pinguinha". Acredito que nem o fazia de forma premeditada. Fazia-o porque quase todos assim agiam e era assim e pronto! Não havia eletricidade e a tia M., alem da roupa das senhoras, ainda lavava a de uma casa cheia de crianças que brincavam descalças e com arcos, carrinhos de rolamentos, pistolas improvisadas e guerras em trincheiras como nos livros de banda desenhada. Eramos todos pobres. Mas alguns eram ainda mais pobres. Mas isso não lhes tirava a vontade de brincar, a alegria, a vontade de cantar e era uma alegria vê-los e ouvi-los. Havia sempre um ruído intenso mas colorido, leve, de coisa boa. Na mesa não havia fartura mas não se passava fome. Gosto de me lembrar deles todos à pequena mesa da "casa do forno", a "picarem-se uns aos outros, o tio M sempre com um gato ao colo e a tia N. numa roda viva, como se tivesse corda a tentar que tudo corresse "na graça de deus". Gostava tanto do arroz que ela fazia com feijão e petingas tritas! Dos fritos fofos, das azevias, do pão. Gostava tanto do pão dela. Tinham a Violeta, uma cadela pequena e linda que certamente gostava de mim, mas que eu, menina mimada e parva repelia, subindo bancos ou o que estivesse a jeito. E havia uma tal ordem neste caus, que quando não se ouvia gritaria tudo parecia de pernas pro ar. Do avesso. Estranho. Entretanto fomos crescendo. O Urso, o mais velho, foi pra guerra na Guiné. O Leão, para Angola mas voltaram ilesos, a Doninha entrou na Função Pública. E o Matuto, o nosso Matuto, morreu! O tio M. tambem já morreu há uns anos. Mas a tia N. Já com mais de noventa anos, ainda vive, com o peso dos desgostos e do cansaço a  contrariar a vontade que ela tem de aproveitar a companhia da filha, já aposentada e que agora faz por ela o que ela sempre lhe fez. O que podia! E eu gosto muito delas. Deste resto de gente que faz parte de mim. Para sempre.