Os meus avós, à exceção de um, eram analfabetos. Mas quando
me lembro de tudo o que aprendia com eles, espanta-me que tivessem tanta
sabedoria. A chamada sabedoria popular. Vasta e assertiva. O meu avô materno
era muito conversador e saía-se com dissertações de que ainda hoje me lembro.
Dizia ele quando via alguém de muita idade ou doente que estava a “precisar de
céu”.
Nestes dias, quando entro no hospital e subo àquele piso,
encontro quase sempre tudo na mesma. Macas no corredor com doentes sem saúde,
sem dentes, e sem cabelo. Nas enfermarias o mesmo. E nós, os familiares, também
somos quase sempre os mesmos e já nos conhecemos uns aos
outros. Mas nem nos cumprimentamos. A cortesia não combina com aquele ambiente.
Já sabemos ao que vamos. Alguns, voltam para trás a chorar. Outros, como eu,
avançamos de passos pesados, lágrimas reprimidas e soluços sufocados. Até
chegar ao fim do corredor, faz eco na minha cabeça o que o meu avô dizia “A precisar de céu… a precisar de céu … a precisar de
céu
Sem comentários:
Enviar um comentário