terça-feira, 1 de outubro de 2019

A "precisar de céu"


Os meus avós, à exceção de um, eram analfabetos. Mas quando me lembro de tudo o que aprendia com eles, espanta-me que tivessem tanta sabedoria. A chamada sabedoria popular. Vasta e assertiva. O meu avô materno era muito conversador e saía-se com dissertações de que ainda hoje me lembro. Dizia ele quando via alguém de muita idade ou doente que estava a “precisar de céu”.
Nestes dias, quando entro no hospital e subo àquele piso, encontro quase sempre tudo na mesma. Macas no corredor com doentes sem saúde, sem dentes, e sem cabelo. Nas enfermarias o mesmo. E nós, os familiares, também  somos quase  sempre os mesmos e já nos conhecemos uns aos outros. Mas nem nos cumprimentamos. A cortesia não combina com aquele ambiente. Já sabemos ao que vamos. Alguns, voltam para trás a chorar. Outros, como eu, avançamos de passos pesados, lágrimas reprimidas e soluços sufocados. Até chegar ao fim do corredor, faz eco na minha cabeça o que o meu avô dizia “A precisar de céu…   a precisar de céu  a precisar de céu

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