quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Viver/existir

A D.G. tem mais de oitenta anos. Há uns meses partiu um braço. Pouco depois, partiu o outro. Fez cirurgia e fisioterapia, mas uma das mãos não recuperou a ela não consegue "fazer a sua vida" sem ajuda.
Disse-me ela ontem "Vê lá, tão autónoma que eu era, e agora vou ficar assim, dependente para sempre. Até ao fim da minha vida". Gostei de a ouvir dizer isto. Não, não fiquei contente por a senhora ficar dependente! Fiquei contente, pelo modo como ela disse "até ao fim da minha vida". A maneira como o disse. Como se o fim da sua vida estivesse muito longe. Como se ainda tivesse para viver outra vida. Longa.
Gosto de pessoas assim. Que não vivem cada dia como se fosse o ultimo. Mas que vivem cada dia, como se fosse o primeiro de muitos.

Sem comentários:

Enviar um comentário