segunda-feira, 9 de julho de 2018

Tatuado na carne

Faltam poucos dias para que as minhas filhas façam 36 anos.
Mesmo não sendo de grandes nostalgias, não há como não me lembrar do acontecimento mais importante da minha vida. E sinto saudades. Muitas saudades. Do cheirinho delas quando nasceram. De como as senti realmente minhas quando chegamos a casa. De acordar de manhã (sim, nunca me deram más noites) e olhar bem pra elas para me certificar de que era verdade e elas estavam mesmo ali. Do medo que senti de não conseguir cumprir como mãe. Do caos delicioso dos dois banhos. De como as senti a fugir de mim no primeiro dia na pré. Do tempo em que cabíamos os quatro deitados no sofá da sala a ver televisão. Da hora de dormir com uma história inventada todos os dias (como me arrependo de não as ter escrito). Da primeira vez que viajaram sozinhas. Das viagens que fizemos os quatro. Do dia em que deixei a M. numa cidade estranha, numa casa estranha cheia de gente que lhe era estranha. Fingi que me vinha embora toda contente mas chorei baixinho o caminho todo mesmo sabendo que lhe estava a dar a ela o que gostaria que me tivessem dado a mim: asas. Ainda hoje o pai acha que ela nesse dia se sentiu abandonada por nós. A S. estudou perto e vinha dormir a casa. De Como encarei com fingida normalidade o facto de cada vez serem menos "minhas".
Orgulho-me de se terem tornado nas mulheres que são hoje.
Muito tempo passou. Muita coisa mudou.
Mas uma coisa jamais mudará: a nossa condição de mãe e filhas.
O meu projeto acabado!

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