quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Hoje deu-me pra isto


Hoje, enquanto remexia em gavetas fechadas há muito, vi fotos das minhas filhas quando eram pequenas. E revi muitos momentos daquela época. De como me esforcei por fazer tudo certo (mesmo com a certeza de que isso era impossível), de como muitas vezes era difícil, de como era ainda mais difícil pra mim, por ser filha da ditadura, de como queria fazer diferente de como a minha mãe tinha feito comigo, de querer a todo o custo ser a melhor mãe do mundo e de, feitas as contas, alguma coisa ter feito bem, já que elas são pessoas extraordinárias. Mérito partilhado com o pai, ele sim, talvez, o melhor pai do mundo. Naquela época, não compreendiam, certamente, que ralhar, proibir, dizer não, castigar, ser contra, era, para mim, uma atitude pedagógica. E que me doía e dói ainda hoje. Mas, agora também elas mães e na mesma esperança de serem as melhores, farão como eu – nem sempre terão tempo de consultar o coração ou a razão. Apesar de a nossa situação económica nunca ter sido por aí alem, uma delas disse há algum tempo que nunca lhes tinha faltado nada. E o calorzinho que essa afirmação me deu, compensou as minhas inseguranças em relação à minha prestação como mãe e formadora. Quando fechei a gaveta, já esquecida das dificuldades e problemas, fiquei entre a nostalgia e a alegria, e com a sensação de dever cumprido. E gratidão por, apesar de difícil, tudo ter valido a pena.

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