Dizia-me há tempos uma amiga (das falsas), que conhece pouco de Portugal porque vai de férias sempre "pra fora".
Pelo tom que usou, pareceu-me que não fica "cá dentro" porque isso é para pelintras.
Não fosse ela tão estupida que nem ia perceber, eu explicava-lhe como é lindo e enriquecedor observar e participar mesmo que por pouco tempo na deliciosa vida comunitária de Rio de Onor e não sair de lá sem comer botelo com casula, como tem um sabor especial beber um bom Alvarinho em Castro Laboreiro, espreitar o doce isolamento de Pitões de Junias, como é reconfortante descansar à sombra dos espigueiros do Soajo, como é inesquecível a visão de Drave, mesmo de longe.
E descansar no Vimioso, a caminho de Miranda? Não fosse a tal estupidez e ainda lhe sugeria um bom descanso à sombra do velho jacarandá do castelo de Mogadouro, uma passagem por Almeida em dia de comemorações do Cerco, que a calma das vacas no largo de Lamas de Ôlo e toda a envolvência são imperdíveis, que devia ser obrigatório conhecer Marialva, Piódão, Sortelha, Linhares, Monsanto, Monsaraz e outras aldeias históricas, que não deixasse de ver a Porta de Ródão, as aldeias avieiras Palhota, Caneiras e Escaroupim, que quando fosse para o Algarve no verão, não fosse na autoestrada e apreciasse a planície alentejana, aqui e ali salpicada de aldeias brancas, que entrasse no Algarve profundo.
Cidades grandes, ela deve conhecer, já que têm lojas de roupas com as mesmas marcas que ela encontra "lá fora" e isso, para "viajantes" da laia dela é o mais importante.
Para finalizar, não por não ter mais sugestões, mas para não me tornar demasiado maçadora, aconselhava-lhe uma subida ao miradouro de S. Leonardo da Galafura, local de eleição de Miguel Torga, e aí sim, se não fosse completamente estúpida, ficaria rendida às belezas lusas.
Só para ponto final, ainda lhe dizia que "Portugal está na moda". Esta sim, a linguagem que ela de certeza ia entender.
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