Há alguns anos por esta altura, estava em Praga.
Por cá era fim de verão e lá também. Mas para nós, europeus do sul, era inverno rigoroso. Temperaturas baixas, aquecedores de rua ligados e chuva gelada.
Quando compôs As quatro Estações (ainda tenho o disco em vinil), Vivaldi conseguiu colocar em musica, genialmente, todas as diferenças entre as estações do ano, de um modo tão harmonioso, que se fecharmos os olhos e ouvirmos com atenção, somos levados pela musica, exatamente até cada estação.
Foi o que fiz há uns dias. Fechei os olhos e deixei-me levar.
Na primavera, fui até ao Alentejo de antigamente, aquela mistura do azul forte do céu, do verde ondulante das searas de trigo salpicadas de papoilas, maias e outras flores. Com borboletas de todas as cores e ninhadas de coelhos, bem ali ao alcance da nossa vista.
No verão, aqui bem perto, ainda na minha infância, as ceifas, o cantar das cigarras, as vindimas, o cheiro a calor e a mosto.
Mas o outono, esse levou-me a Praga. Num passeio no rio, as arvores como aureolas, num colorido em degradè amarelo, laranja vermelho e castanho. A Ponte Carlos pejada de turistas e artistas, a Praça Venceslau cheia de gente agasalhada com o vapor da respiração a misturar-se, a musica clássica nas igrejas...
Já o inverno, trouxe-me pra casa. Lareira acesa, pijama e pantufas, um bom livro, chá quente e boa musica. Tudo ao mesmo tempo ou não.
Será que quando compôs a obra, Vivaldi quis apenas diferenciar as quatro estações do ano, ou também as várias fazes da nossa vida?
Bem, eu até gosto do outono...
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