quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Tudo mal. Tão mal

Por todo o lado e todos os dias, encontramos pessoas a pedir.
Portugueses ou estrangeiros. Com deficiências várias ou chagas bem visíveis. De pé ou sentados curvados para a frente, como se a verdade ou a mentira que carregam os impedisse de nos olhar de frente. A empunhar placas falsas ou verdadeiras em que nos pedem dinheiro para operar filhos ou alimentar verdadeiras ninhadas. Homens mulheres ou crianças. Mais ou menos insistentes.
Já nos habituamos a eles e muitos de nós já nem os vimos, mesmo olhando para eles.
Tenho dias em que consigo quase nem os ver. Afinal, não posso dar a todos e a seleção é difícil.
Da ultima vez, era um estrangeiro. Sentado, com uma placa em português que apelava à nossa boa vontade, já que o senhor tinha quatro filhos e não tinha como alimenta-los.
Respirei fundo e passei por ele com uma indiferença tão falsa como o cartaz que tinha na mão.
E pensei (eu às vezes também penso), quem é que ali estava mal.
Se ele, possivelmente a mentir e quem sabe, até com várias crianças a pedir para ele.
Se eu, empedernida, egoísta, fria e insensível. Quem me garante que aquele homem não estava a ser verdadeiro? E se eu não podia dar dinheiro, porque não dei um sorriso, um afago, um olhar de solidariedade?
Pensei nisto o resto do dia. E concluí que está tudo mal.
Tudo mal!

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