Quando era pequena, era hábito irmos todos os verões quinze dias à praia.
Ou Foz do Arelho ou Nazaré.
Hoje, e não sei porquê, lembrei-me de quando íamos para a Nazaré para uma casinha (cozinha e quarto) no Pátio Rocha.
O Pátio, era isso mesmo, um pátio para onde davam várias casas, que me lembre todas iguais ou muito parecidas. A "nossa" ficava num primeiro andar e pertencia a uma senhora de nome Maria, que me impressionava por usar tanta roupa (sete saias) no verão com tanto calor.
A casa não tinha água canalizada e era a D. maria que levava todos os dias uma bilha que tinha enchido numa fonte que não me lembro onde ficava. Casa de banho, não devia haver, mas já não me lembro.
Claro que não íamos para a praia porque eramos crianças e isso nos poderia ser benéfico para a saúde ou porque os nossos pais sabiam que íamos gostar. Não! Íamos para a praia, porque um médico tinha dito ao meu pai que o sol lhe havia de fazer bem à ciática.
Então os nossos dias eram passados na "barraca" da praia de onde não podíamos sair porque o sol fazia mal, e também não podíamos ir para a água porque como era muito fria também fazia mal.
A minha mãe não usava fato de banho porque o meu pai achava que senhora séria não se mostrava em tais preparos em frente de estranhos e nós, eu e a minha irmã também não precisávamos. E assim brincávamos, à sombra e vestidas e só quando apareciam os nossos primos de Alcobaça havia alguma diversão.
Ainda me lembro, de nós a chegarmos à praia de "soquetes" e sapatinhos verniz enquanto os outros miúdos iam de chinelos ou descalços.
Eram duas semanas boas só para o meu pai, já que para a minha mãe era um enorme frete ter de cozinhar e limpar e aturar duas crianças, que apesar de lesmas eramos crianças, numa casa que não era a dela.
Mas ainda assim eu gostava das brincadeiras que tínhamos com outras crianças do Pátio.
Poucas vezes, que não se deve brincar com estranhos e quando o sol se punha lá vinha o meu pai chamar porque o "relento" da praia fazia muito mal.
Talvez já não exista o Pátio Rocha. E nem sei porque me lembrei disto hoje.
Ou sei!
É que ao almoço e ao jantar cheirava sempre muito bem na rua a peixe assado e a pimentos.
Toda a gente acendia um fogareiro a carvão e assava o peixe que tinha comprado no areal à chegada dos barcos.
E hoje cheirou-me aqui quase igual.
Ainda hoje, o cheiro de pimentos, e os pimentos em si, são para mim o símbolo do verão.
Bem sei que agora comemos pimentos todo o ano, mas não é a mesma coisa.
Quando for à Nazaré ainda hei-de ir espreitar se o Pátio.
Se existir.