terça-feira, 31 de março de 2015

Pascoa

"Pascoa, mesmo para os agnósticos como eu, tem sempre um significado especial.
Religião à parte, esta é sempre uma época de coisas boas.......
Principio de Primavera....... amendoas........borrego........reunião com pessoas de quem gostamos.......flores no jardim.........cheiro a polen no ar.......esperança........"
 

sexta-feira, 27 de março de 2015

E mais ainda...

... pudesse eu, e tentaria chegar ao coração dos milhões de formigas minhas vizinhas, dizendo-lhes que demorei dez anos a construir esta casa, por falta de guito, e que já tenho uma certa idade e preciso de algum conforto.
É que as hercúleas criaturas, enfiaram na sua minúscula cabeçinha que tinham de tirar toda a terra que está por baixo de minha humilde barraquita. Um dia destes, acordo com a casa enfiada num buraco, tal é a quantidade de terra que estes demos conseguem tirar.

quinta-feira, 26 de março de 2015

E ainda....

... teria de ensinar a Mantorras preto de sua dona, que, assim como não se deve cuspir no prato em que se comeu, também não se deve mijar, na cama onde se dormiu.

A minha vida no campo (2)

Já aqui escrevi como é poético viver no campo.
Mas para que fosse ainda mais perfeito, teria eu de conseguir comunicar, fazer-me entender, pela bicheza que me cerca.
Ora vejamos: ao parvo do sapo verde que me veio aqui parar, sabe-se lá porquê, convencia-o de que essas coisas do acasalamento, ou pretensão ao mesmo, devem ser uma coisa íntima, mais silenciosa, quem sabe resultava melhor e eu, coitadinha, podia dormir tranquilamente toda a noite, sem ter de ouvir tamanho ruído, vindo de um ser tão minúsculo.
As moscas, tentava convencê-las a irem procurar um sítio mais badalhoco e com bostas com fartura (nem tinham de voar muito), e onde poderiam viver e reproduzir-se à vontade, já que por aqui há uma máquina de destruição implacável.
As melgas, essas tontas, com tantos lares de carnes tenras, teimam em não sair daqui, onde só há carnes duras.
Os caracóis, essas lebres disfarçadas, bem faziam, se ficassem no terreno do vizinho a comer a erva tenra, em vez de me subirem pelas paredes e serem dizimados pela minha arma de destrição massiva.
Os cães, bem podiam ficar bem caladinhos toda a noite, deixando dormir sua dona toda noite, já que podem ladrar à vontade que eu nem me mexo para me certificar do porquê de tanta algazarra. E mesmo que sejam larápios, bem podem calar a matraca, não vão levar com um balázio na tola.
As gatas, essas tolas, nem se lembram que já foram pelintras e esfomeadas, por isso com um estômago pequenino. Assim que se levantam, toca a encher o bamdulho até não caber mais, e a seguir vomitam tudo. Lá teria eu de lhes explicar que comendo pouco de cada vez ficava tudo lá dentro, e sua dedicada dona não teria necessidade de limpar vomitado das fofas por causa de sua gula.
Era isso, e deixarem de cagar mesmo ao pé das minha alfaces.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Herberto Helder 1930-2015

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne.
Sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.


Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
rios, a grande paz exterior das coisas,
folhas dormindo o silêncio
— a hora teatral da posse.


E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.


E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único, invade as casas deitadas nas noites
e as luzes e as trevas em volta da mesa
e a força sustida das coisas
e a redonda e livre harmonia do mundo.
— em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
E o poema faz-se, contra a carne e o tempo.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Carta ao Sr. Primeiro ministro

Querido primeiro ministro

Serve esta, para lhe transmitir um pouco de conforto e solidariedade, já que o menino, ultimamente, tem sido alvo de muitas incompreensões.
Invejosos, é o que é!!!!
Que o querido não pagou à segurança social!!!!!!!!!! Só se tomasse Memofante, o fôfo se iria lembrar de uma coisa dessas.
Então, quem é que anda sempre nas filas do desemprego, vai aos magotes aos hospitais públicos como se fossem a um concerto do Tony Carreira, ao médico de família e por aí fora??????
Os pindéricos que ganham o salário mínimo ou pouco mais, claro!!!!
E digo-lhe mais, cá pra mim, não fossem os seus assessores, ou lá o que eles são, o querido de certeza nem se tinha lembrado de pedir uma coisa dessas aos aos portugueses. Por causa desses mauzões, agora todos temos de pagar segurança social.
Ó filho, aqui só pra nós, tem pedido o recibo daquela casinha que arrenda no verão, na Manta Rota?
Se sim, ignore. Se não, passe a pedir.
É que se os galifões da oposição sabem, ainda lhe fazem a vidinha negra. Alem de que, ainda se pode habilitar a um carrito. Essa sim, uma brilhante ideia dessa cabecinha loira quase depenadita.
E um carro topo de gama, daqueles caros e potentes, que o menino gosta de nos ver bem montados, não é seu maroto?

Sem mais, beijinhos nessas bochechas rosadas, desta que descontou mais de vinte anos para a segurança social, e que, porque está há sete anos desempregada e sem perspetivas de arranjar trabalho até ao fim da vida, provavelmente nunca vai ter uma reforma.

Helena Lopes.