quinta-feira, 4 de abril de 2013

Das coisas simples da vida

A minha avó R. foi uma avó como todas as netas gostariam de ter.
Era avó, mãe, amiga, maluca, brincalhona....era tudo o que a ocasião pedia.
Mulher criada na dura faina serrana, era doce como o mel de madressilva.
Gosto de pensar que herdei dela algumas carasterísticas.
Quando era criança adorava sentar-me no seu colo, a ouvir as histórias da sua infancia.
Uma infancia sofrida, cheia de privações e trabalhos pesados.
Um desses trabalhos era o pastoreio.
Ela e os irmãos iam com o gado para a serra de manhã, com um parco farnel num saco de retalhos e voltavam ao fim do dia.
Eu, menina pobre mas a quem nunca faltou o essencial, perguntei-lhe um dia como faziam para limpar o rabo quando andavam na serra. Se levavam tambem papel higiénico junto com o farnel.
Ela riu-se, disse-me que naquela altura nem se falava em papel higiénico, e que tinham de se haver com o que havia. Isto é, o que havia era mato e pedras.
Ora como o mato era áspero, restavam as pedras.
-Ó filha, o cu limpava-se a uma pedra!
Hoje lembrei-me disto porque constatei que cá em casa se gasta um rolo de papel higiénico por dia.
Com este agravar da crise, ainda me há-de calhar ter de limpar o cu a uma pedra!
Ai calha, calha.

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